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TRADICIONALISMO E CONSERVADORISMO.

Tradicionalismo

A Tradição Degenerada em Tradicionalismo 
Este foi um dos grandes problemas enfrentados pelo Senhor Jesus.
A religião judaica havia se tornado incrivelmente tradicionalista.
Havendo cessado a revelação, os judeus, já no segundo século antes de Cristo, produziram uma infinidade de tradições ou interpretações da Lei, conhecidas como Mishnah.
Essas tradições foram cuidadosamente guardadas pelos escribas e fariseus por séculos, até serem registradas nos séculos IV e V A.D., passando a ser conhecidas como o Talmude, a interpretação judaica oficial do Antigo Testamento até o dia de hoje.
 Muitas dessas tradições judaicas eram, entretanto, distorções do ensino do Antigo Testamento.
 Mas tornaram-se tão autoritativas, que suplantaram a autoridade do Antigo Testamento.
Jesus acusou severamente os escribas e fariseus da sua época, dizendo:
 Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
 Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.
E disse-hes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição... invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós mesmos transmitistes... (Mc 7.7-9,13).11
 O Apóstolo Paulo também denunciou essa tendência.
 Escrevendo aos colossenses, ele advertiu: Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo... Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças:
Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens?
(Cl 2.8,20-22).
 Quinze séculos depois, os Reformadores se depararam com o mesmo problema: as tradições contidas nos livros apócrifos e pseudepígrafos, nos escritos dos pais da igreja, nas decisões conciliares e nas bulas papais também degeneraram em tradicionalismo.
As tradições eclesiásticas adquiriram autoridade que não possuíam, usurpando a autoridade bíblica.
É neste contexto que se deve entender a doutrina reformada da autoridade das Escrituras.
Trata-se, primordialmente, de uma reação à posição da Igreja Católica.
 Isto não significa, entretanto, que a tradição eclesiástica seja necessariamente ruim.
Se a tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, ou está de acordo com ele, não sendo considerada normativa (autoritativa) a não ser que reflita realmente o ensino bíblico, então não é má.
Os próprios Reformadores produziram, registraram e empregaram confissões de fé e catecismos (os quais também são tradições eclesiásticas).
 Para eles, contudo, esses símbolos de fé não têm autoridade própria, só sendo normativos na medida em que refletem fielmente a autoridade das Escrituras.
 O problema, portanto, não está na tradição, mas na sua degeneração, no tradicionalismo, que atribui à tradição autoridade inerente.
O tradicionalismo atribui autoridade às tradições, pelo simples fato de serem antigas ou geralmente observadas, e não por serem bíblicas.
Essa tendência acaba sempre usurpando a autoridade das Escrituras. B. A Emoção Degenerada em Emocionalismo 
Outra fonte de autoridade que sempre ameaça a autoridade das Escrituras é a emoção, quando degenerada em emocionalismo. Isto quase inevitavelmente conduz ao misticismo.
 Na esfera religiosa, freqüentemente é dado um valor exagerado à intuição, ao sentimento, ao convencimento subjetivo.
Quando tal ênfase ocorre, facilmente esse sentimento subjetivo de convicção, pessoal e interno, é explicado misticamente, em termos de iluminação espiritual e revelação divina direta, seja por meio do Espírito, seja pela instrumentalidade de anjos, sonhos, visões, arrebatamentos, etc.
 Não é que Deus não tenha se revelado por esses meios.
 Ele de fato o fez. Foi, em parte, através desses meios que a revelação especial foi comunicada à Igreja e registrada no cânon pelo processo de inspiração.
O que se está afirmando é que o misticismo copia, forja essas formas reais de revelação do passado, para reivindicar autoridade que na verdade não é divina, mas humana (quando não diabólica).
Essa tendência não é de modo algum nova.
Eis as palavras do Senhor através do profeta Jeremias:
 Assim diz o Senhor dos Exércitos:
Não deis ouvido às palavras dos profetas que entre vós profetizam, e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor...
 Até quando sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?...
O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com verdade.
 Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor (Jr 23.16,26,28). Séculos depois o Apóstolo Paulo enfrentou o mesmo problema.
Ele próprio foi instrumento de revelações espirituais verdadeiras, inspirado que foi para escrever suas cartas canônicas.
Nessa condição, ele sabia muito bem o que eram sonhos, visões, revelações e arrebatamentos.
Mas, ainda assim, advertiu aos colossenses, dizendo:
"Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal" (Cl 2:18).
Tanto Jesus como os apóstolos advertem a Igreja repetidamente contra os falsos profetas, os quais ensinam como se fossem apóstolos de Cristo, mas que não passam de enganadores.
 Pois bem, sempre que tal coisa ocorre, a autoridade das Escrituras é ameaçada.
 O misticismo, como degeneração das emoções (não se pode esquecer que também as emoções foram corrompidas pelo pecado) tende sempre a usurpar, a competir com a autoridade das Escrituras, chegando mesmo freqüentemente a suplantá-la.
 Na época dos Reformadores não foi diferente.
Eles combateram grupos místicos por eles chamados de entusiastas que reivindicavam autoridade espiritual interior, luz interior, revelações espirituais adicionais que suplantavam ou mesmo negavam a autoridade das Escrituras.
Esta tem sido igualmente uma das características mais comuns das seitas modernas, tais como mormonismo, testemunhas de Jeová, adventismo do sétimo dia, etc.
 Entre os movimentos pentecostais e carismáticos também não é incomum a emoção degenerar em emocionalismo, produzindo um misticismo usurpador da autoridade das Escrituras.

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