Uma grande povoação. Esse sítio ainda hoje é chamado Segor. Os pesquisadores se regozijaram, pois Segor era uma das cinco cidades ricas do vale de Sidim que se recusaram a pagar tributo aos quatro reis estrangeiros. Mas as escavações experimentais realizadas trouxeram apenas decepção. Assim, há dúvidas ainda se Segor é o mesmo sítio citado na Bíblia. A verificação das ruínas descobertas revelou tratar-se de restos de uma cidade que floresceu no princípio da Idade Média. Da antiga Segor do rei de Bala (Gênese 14.2) e das capitais vizinhas não se encontrou vestígio. Entretanto, diversos indícios encontrados nos arredores da Segor medieval sugerem a existência de uma povoação muito densa naquele país em época muito anterior. Na costa oriental do mar Morto, estende-se mar adentro, como uma língua de terra, a península de El-Lisan. Em árabe, “el-Lisan” significa “a língua”. A Bíblia menciona-a expressamente quando se refere à partilha do país depois da conquista. As fronteiras da tribo de Judá são traçadas com precisão. Para isso Josué dá uma estranha característica a fim de indicar os limites do sul: “O seu princípio ê desde a ponta do mar salgado, e desde a língua que ele forma, olhando para o meio-dia” (Josué 15.2). Uma narrativa romana refere-se a essa língua de terra numa história que sempre foi injustamente considerada com grande ceticismo. Dois desertores fugiram para essa península. Os legionários que os perseguiram procuraram-nos em vão por toda parte. Quando finalmente os avistaram, era tarde demais. Os desertores já escalavam os altos rochedos da outra margem... Tinham atravessado o mar a vau! Evidentemente o mar naquela época era mais raso que hoje. Invisível, o fundo ali forma uma dobra gigantesca que divide o mar em duas partes. À direita da península, desce a prumo até quase quatrocentos metros de profundidade. À esquerda da península, o fundo é extraordinariamente raso. Medições feitas nos últimos anos acusaram profundidades de quinze a vinte metros apenas. Os geólogos tiraram dessas descobertas e observações outra interpretação, que poderia explicar a causa e fundamento da narrativa bíblica da aniquilação de Sodoma e Gomorra. A expedição americana dirigida por Lynch foi a primeira que, em 1848, deu a notícia da grande descida do Jordão em seu breve curso pela Palestina. O fato de, em sua queda, o leito do rio descer muito abaixo do nível do mar é, como só pesquisas posteriores comprovaram, um fenômeno geológico singular. “É possível que haja em algum outro planeta coisa semelhante ao que ocorre no vale do Jordão; no nosso não existe’’, escreve o geólogo George Adam Smith em sua obra A geografia histórica da Terra Santa. “Nenhuma outra parte não submersa da nossa Terra fica mais de cem metros abaixo do nível do mar.” O vale do Jordão é apenas parte de uma fenda imensa na crosta da nossa Terra. Hoje já se conhece sua extensão exata. Começa muitas centenas de quilômetros ao norte da fronteira da Palestina, nas faldas da montanha do Tauro, na Ásia Menor. Ao sul, vai desde a costa sul do mar Morto, atravessa o deserto de Araba até o golfo de Ácaba e só vai terminar do outro lado do mar Vermelho, na África. Em muitos lugares dessa imensa depressão há vestígios de antiga atividade vulcânica. Nos montes da Galiléia, nos planaltos da Jordânia oriental, nas margens do afluente Jabbok, no golfo de Acaba, há basalto negro e lava. Será que Sodoma e Gomorra afundaram quando — acompanhado por terremotos e erupções vulcânicas — um pedaço do chão do vale ruiu um pouco mais? E o mar Morto se alongou naquela época em direção ao sul, como é mostrado (figura 12) no esboço? A ruptura da terra liberou as forças vulcânicas contidas há muito tempo nas profundezas da greta. Na parte superior do vale do Jordão, junto a Basan, erguem-se ainda hoje as crateras de vulcões extintos, e sobre o terreno calcário há grandes campos de lava e enormes camadas de basalto. Desde tempos imemoriais, os territórios ao redor dessa depressão são sujeitos a terremotos. Repetidamente temos notícia deles, e a própria Bíblia fala a respeito. Como para confirmar a teoria geológica do desaparecimento de Sodoma e Gomorra, escreve textualmente o sacerdote fenício Sanchuniathon em sua História antiga redescoberta: “O vale de Sidimus21 afundou e se transformou em mar, sempre fumegante e sem peixe, exemplo de vingança e morte para os ímpios”. E a mulher de Lot, “tendo olhado para trás, ficou convertida em estátua de sal” (Gênese 19.26). Quanto mais nos aproximamos da extremidade sul do mar Morto, mais deserta e selvagem se torna a região e mais sinistro e impressionante é o cenário das montanhas. Um eterno silêncio paira nos montes, cujas vertentes escalavradas pendem a prumo sobre o mar, onde se reflete sua brancura cristalina. A inaudita catástrofe deixou seu selo indelével de tristeza e desolação naquelas paragens. Raramente passa por algum daqueles vales fundos e escarpados um grupo de nômades a caminho do interior.Isto é, Sidim. Onde terminam as águas pesadas e oleosas, ao sul, termina também, bruscamente, o impressionante cenário de rochedos, dando lugar a uma região pantanosa de água salgada. O solo avermelhado é riscado por inúmeros ribeiros, perigosos para o viajante incauto. Essa baixada estende PARA O O mar Morto: a) 2000 a.C, antes da afundação de Sodoma e Gomorra; b) 1900 a.C, depois da catástrofe se a grande distância para o sul até o deserto vale de Araba, que chega até o mar Vermelho. A oeste da costa sul, na direção do país do meio-dia bíblico, o Neguev, estende-se um espinhaço de quarenta e cinco metros de altura e quinze quilômetros de comprimento na direção norte-sul. O sol, batendo nas suas encostas, produz reflexos de diamante. É um estranho fenômeno da natureza. A maior parte dessa pequena serra é constituída de puros cristais de sal. Os árabes chamam-lhe Djebel Usdum, nome antiqüíssimo em que está contida a palavra “Sodoma”. A chuva desloca numerosos blocos de sal que rolam até a base. Esses blocos têm formas caprichosas e alguns deles são eretos como estátuas. Às vezes em seus contornos a gente pensa distinguir, de repente, formas humanas. As estranhas estátuas de sal trazem logo à lembrança a história da Bíblia sobre a mulher de Lot, que foi transformada em estátua de sal. E tudo o que está próximo ao mar salgado ainda hoje se cobre em pouco tempo com uma crosta de sal. Até hoje, as peregrinações de Abraão continuam a intrigar os cientistas. Salientou-se que, além do que diz a Bíblia, não há confirmação alguma da permanência de Abraão no Egito, e mesmo os textos bíblicos mencionam-na somente de passagem, relatando um truque empregado por Abraão, pelo medo que teve de ser assassinado por sua linda esposa. Da mesma forma, essa passagem ainda tem aquele duplo sentido do qual se falará no posfácio desta nova edição revista. A respectiva menção aparece por duas vezes (Gênese 12.9 e 20.1), só que a segunda menção, "E Abraão partiu dali para a parte do meio-dia, habitou entre Cades e Sur e viveu como peregrino em Gerara" (entre Gaza e Beersheba), não fala mais no Egito. Em todo caso, seja como for, ou como se queira interpretar aqueles textos, dificilmente o relato poderia ser considerado como histórico. Acresce-se o fato de que, segundo as pesquisas mais recentes, os afrescos na tumba de Chnum-hotep, em Beni Hassan, não se enquadram, incondicionalmente, nas crônicas bíblicas dos patriarcas, visto que as caravanas ali retratadas usam o burro, como seria de se esperar de caravanas ao redor de 1900 a.C, conquanto a Bíblia atribui camelos a Abraão e seus seguidores, e, segundo a opinião vigente, esses últimos seriam os contemporâneos daquelas caravanas. No entanto, há uma diferença enorme entre o uso dessas duas espécies de montaria e besta de carga, quanto à sua autonomia, seus custos, sua mobilidade e, com isso, a segurança da caravana com a qual seguiram. A introdução do camelo como montaria e besta de carga equivale a uma revolução no sistema do transporte do antigo Oriente. Em outra parte tornaremos a tratar do assunto com maiores detalhes. No entanto, em que época aconteceu tal "revolução"? Também em data recente, os zoólogos especializados em animais domésticos, bem como os orientalistas, estudaram o assunto sem lograr resolvê-lo. Assim, continuam como "animais problemáticos" tanto os famosos "camelos dos patriarcas" quanto os dos mercadores que levaram José para o Egito. (Este ponto será igualmente tratado no fim do capítulo seguinte.) Da mesma forma, a tradição de Sodoma e Gomorra parece ser ainda mais problemática do que a referente aos camelos de Abraão. Antes de mais nada, convém frisar que está fora de qualquer cogitação a hipótese segundo a qual a depressão do rio Jordão teria se originado somente há uns quatro milênios, pois, conforme as pesquisas mais recentes, a origem dessa depressão remontaria ao Oligoceno (Terciário, entre o Eoceno e o Mioceno). Portanto, neste caso é preciso calcular não em milhares, mas sim milhões de anos. Embora, em tempos posteriores, fosse comprovada uma atividade vulcânica mais intensa, relacionada com a abertura da depressão do rio Jordão, mesmo assim chegamos a parar no Plistoceno, encerrado há uns dez mil anos, e ficamos longe do chamado "período dos patriarcas", convencionalmente datado no terceiro ou até segundo milênio antes de Cristo. Ademais, justamente ao sul da península de Lisan, onde supostamente teria acontecido o ocaso de Sodoma e Gomorra, perdem-se todos os vestígios de erupções vulcânicas. Em outras palavras, naquela área as condições geológicas não permitem comprovar uma catástrofe ocorrida em época geológica bem recente, que destruiu cidades e foi acompanhada por violentas erupções vulcânicas. Por outro lado, o que se achou a respeito da entrada do mar Morto na bacia do sul, mais rasa? No decorrer de sua história bastante movimentada, o mar Morto (e seus antecessores no Plistoceno) estendeu-se, freqüentemente, além da atual bacia meridional, invadindo o Uadi e ‘Arab. Por vezes, seu nível ficou até cento e noventa metros mais alto do que hoje. Naqueles tempos, o lago imenso ali represado encheu toda a depressão do Jordão, desde o Uadi e ‘Arab, e subiu até o lago de Genesaré. Em seguida, esse lago diminuiu, como o atestam nada menos que vinte e oito antigos terraços nas suas margens, ou, possivelmente, até secou, e somente depois (presumivelmente, acompanhado por fortes tremores de terra) houve a formação do mar Morto. Mas igualmente esse acontecimento ocorreu ainda em fins do Plistoceno, quando, embora o homem já existisse, ainda não havia cidades. Todavia, há uma vaga possibilidade de que se teria tratado de experiências vividas naquela região pelo homem da Idade da Pedra, que, transmitidas de boca em boca, geração após geração, criaram as tradições das “cidades devastadas” e vieram a dar origem à tradição em apreço, pois essa tradição parece ser muito antiga, bem mais antiga do que se supôs até agora. Logo mais, voltaremos ao assunto. Decerto, houve terremotos no mar Morto em tempos posteriores, como, por exemplo, o ocorrido em 31 a.C, cujos horrores foram relatados por Flávio Josefo, bem como o registrado em Qirbet Qumran (local do achado dos famosos “rolos manuscritos do mar Morto”), onde persistem os vestígios da destruição então causada. Contudo, em parte alguma há indícios de uma catástrofe que, no início do segundo milênio antes da nossa era, teria aniquilado cidades inteiras. Aliás, nomes de locais geográficos, como Bahr ei Lat (“mar de Lot”), termo árabe para o mar Morto, Djebel Usdum (“monte de Sodoma”) e Zoar, não precisam necessariamente ser oriundos de uma tradição autêntica, independente, imediata, primária e paralela à Bíblia. É bem possível que, posteriormente e em aditamento aos relatos bíblicos, esses locais recebessem seus nomes (no caso, poderia tratar-se de uma mera “tradição secundária”). Situação análoga apresenta-se com referência ao “canal de José” (em árabe: Bahr Yusuf), em Fayum, no Egito, a ser mencionado no próximo capítulo. Aliás, o “José egípcio” da Bíblia existe também na tradição islâmica, e provavelmente o nome do respectivo curso de água poderia (ou deveria) estar relacionado com ele. Foi apenas recentemente que a escavação do Tell el-Mardikh, na Síria setentrional (ao sul de Alepo), conduzida pelo cientista italiano Giovanni Pettinato, causou sensação. Ali, Pettinato achou Ebla, uma cidade do terceiro milênio antes da era cristã, e a esse respeito foram três os fatos que causaram espécie. Primeiro, em tempos pré-históricos, existia ali uma civilização avançada, com uma estrutura social altamente diferenciada para a época; segundo, Ebla possuía um rico arquivo de tabuinhas de barro. Como costuma acontecer com todos esses arquivos, sua descoberta promete uma série de conhecimentos novos, quando, por outro lado, tais noções recém-adquiridas bem poderiam abalar algumas das doutrinas até então consideradas certas e garantidas. Recentemente, um colega alemão do Prof. Pettinato comentou: “Depois de estudados e explorados os textos, provavelmente poderemos esquecer os resultados obtidos em todo um século de pesquisas do antigo Oriente”. Contudo, a terceira e, no caso, a mais importante sensação causada pela descoberta do Prof. Pettinato prende-se ao fato de os textos de Ebla conterem nomes que nos são familiares pela leitura da Bíblia e, assim, aparecem no terceiro milênio antes de Cristo! Ali são mencionados tanto o nome de Abraão quanto os nomes das cidades pecadoras de Sodoma e Gomorra, aniquiladas pelo fogo, de Adma e Zeboim, no mar Morto. Aliás, quanto a isso, há um certo ceticismo entre alguns colegas do Prof. Pettinato. Será que ele interpretou corretamente aqueles textos? Sem dúvida, pois como já mencionamos em outro trecho, os nomes dos patriarcas foram encontrados também em outros locais. Mas o que se deve pensar do fato de os nomes Sodoma e Gomorra constarem de um arquivo encontrado na Síria, terceiro milênio antes de Cristo? Assim, será que essas cidades existiram de fato? Ou será que sua tradição remonta a tempos remotos, a ponto de antecederem o início convencionado para o "tempo dos patriarcas"? Decerto, ainda levará muito tempo para se encontrar respostas a todas essas perguntas. Em geral, o cientista não costuma ir à cata de sensações, e falta muito para reunirmos as condições necessárias para avaliar, sem sombra de dúvida, quanto de realmente sensacional há na arqueologia bíblica do Tell el-Mardikh, descontado todo sensacionalismo. Prancha I - Foto: Daniel Blatt, Jerusalém; Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz, Berlim. — O rio Jordão, na Galiléia. A artéria vital da Terra Santa, no trecho norte do seu curso. Prancha II - Werner Braun, Jerusalém; Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz, Berlim — Uadi el-Kelt.- Quanto mais ao sul, tanto mais o vale do Jordão afunda no solo, mais inóspita se torna a paisagem, mais íngremes e bizarros se apresentam os vales adjacentes da depressão do Jordão. Eis a garganta, rochosa e selvagem, do Uadi el-Kelt. Outrora, o caminho de Jerusalém para Jericó, a chamada "vereda de sangue", local da divulgadíssima parábola do bom samaritano, passava por este sombrio vale desértico (provavelmente, o "vale das sombras da morte", decantado pelo salmista). Prancha III - Foto: Werner Braun, Jerusalém; Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz, Berlim. — Jericó antiga, torre fortificada da Idade da Pedra. — A pouca distância da desembocadura do Uadi el-Kelt, na depressão do Jordão, situa-se Jericó, "a cidade mais antiga do mundo". Escavações arqueológicas, feitas nesse local, trouxeram à luz do dia fortificações, como a torre na foto (a formação circular, à direita), cuja idade ultrapassa em alguns milênios a das muralhas de todas as demais cidades conhecidas ao redor do golfo, datando ainda do Neolítico, de época anterior à da invenção da cerâmica.
FALAMOS SOBRE: A SEGUNDA VINDA DE CRISTO. O MILÊNIO DE CRISTO NO FINAL DOS TEMPOS COM CRISTO REINANDO? COMO OBTER A SALVAÇÃO DA ALMA? DESCOBRINDO SOBRE COMO SERÁ A ETERNIDADE. TEMOS AQUI DOCUMENTÁRIOS EVANGELICOS. BAIXE OS MAIS VARIADOS PLAYBACKS PARA SEU GRUPO
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SODOMA E GOMORRA.
Uma grande povoação. Esse sítio ainda hoje é chamado Segor. Os pesquisadores se regozijaram, pois Segor era uma das cinco cidades ricas do vale de Sidim que se recusaram a pagar tributo aos quatro reis estrangeiros. Mas as escavações experimentais realizadas trouxeram apenas decepção. Assim, há dúvidas ainda se Segor é o mesmo sítio citado na Bíblia. A verificação das ruínas descobertas revelou tratar-se de restos de uma cidade que floresceu no princípio da Idade Média. Da antiga Segor do rei de Bala (Gênese 14.2) e das capitais vizinhas não se encontrou vestígio. Entretanto, diversos indícios encontrados nos arredores da Segor medieval sugerem a existência de uma povoação muito densa naquele país em época muito anterior. Na costa oriental do mar Morto, estende-se mar adentro, como uma língua de terra, a península de El-Lisan. Em árabe, “el-Lisan” significa “a língua”. A Bíblia menciona-a expressamente quando se refere à partilha do país depois da conquista. As fronteiras da tribo de Judá são traçadas com precisão. Para isso Josué dá uma estranha característica a fim de indicar os limites do sul: “O seu princípio ê desde a ponta do mar salgado, e desde a língua que ele forma, olhando para o meio-dia” (Josué 15.2). Uma narrativa romana refere-se a essa língua de terra numa história que sempre foi injustamente considerada com grande ceticismo. Dois desertores fugiram para essa península. Os legionários que os perseguiram procuraram-nos em vão por toda parte. Quando finalmente os avistaram, era tarde demais. Os desertores já escalavam os altos rochedos da outra margem... Tinham atravessado o mar a vau! Evidentemente o mar naquela época era mais raso que hoje. Invisível, o fundo ali forma uma dobra gigantesca que divide o mar em duas partes. À direita da península, desce a prumo até quase quatrocentos metros de profundidade. À esquerda da península, o fundo é extraordinariamente raso. Medições feitas nos últimos anos acusaram profundidades de quinze a vinte metros apenas. Os geólogos tiraram dessas descobertas e observações outra interpretação, que poderia explicar a causa e fundamento da narrativa bíblica da aniquilação de Sodoma e Gomorra. A expedição americana dirigida por Lynch foi a primeira que, em 1848, deu a notícia da grande descida do Jordão em seu breve curso pela Palestina. O fato de, em sua queda, o leito do rio descer muito abaixo do nível do mar é, como só pesquisas posteriores comprovaram, um fenômeno geológico singular. “É possível que haja em algum outro planeta coisa semelhante ao que ocorre no vale do Jordão; no nosso não existe’’, escreve o geólogo George Adam Smith em sua obra A geografia histórica da Terra Santa. “Nenhuma outra parte não submersa da nossa Terra fica mais de cem metros abaixo do nível do mar.” O vale do Jordão é apenas parte de uma fenda imensa na crosta da nossa Terra. Hoje já se conhece sua extensão exata. Começa muitas centenas de quilômetros ao norte da fronteira da Palestina, nas faldas da montanha do Tauro, na Ásia Menor. Ao sul, vai desde a costa sul do mar Morto, atravessa o deserto de Araba até o golfo de Ácaba e só vai terminar do outro lado do mar Vermelho, na África. Em muitos lugares dessa imensa depressão há vestígios de antiga atividade vulcânica. Nos montes da Galiléia, nos planaltos da Jordânia oriental, nas margens do afluente Jabbok, no golfo de Acaba, há basalto negro e lava. Será que Sodoma e Gomorra afundaram quando — acompanhado por terremotos e erupções vulcânicas — um pedaço do chão do vale ruiu um pouco mais? E o mar Morto se alongou naquela época em direção ao sul, como é mostrado (figura 12) no esboço? A ruptura da terra liberou as forças vulcânicas contidas há muito tempo nas profundezas da greta. Na parte superior do vale do Jordão, junto a Basan, erguem-se ainda hoje as crateras de vulcões extintos, e sobre o terreno calcário há grandes campos de lava e enormes camadas de basalto. Desde tempos imemoriais, os territórios ao redor dessa depressão são sujeitos a terremotos. Repetidamente temos notícia deles, e a própria Bíblia fala a respeito. Como para confirmar a teoria geológica do desaparecimento de Sodoma e Gomorra, escreve textualmente o sacerdote fenício Sanchuniathon em sua História antiga redescoberta: “O vale de Sidimus21 afundou e se transformou em mar, sempre fumegante e sem peixe, exemplo de vingança e morte para os ímpios”. E a mulher de Lot, “tendo olhado para trás, ficou convertida em estátua de sal” (Gênese 19.26). Quanto mais nos aproximamos da extremidade sul do mar Morto, mais deserta e selvagem se torna a região e mais sinistro e impressionante é o cenário das montanhas. Um eterno silêncio paira nos montes, cujas vertentes escalavradas pendem a prumo sobre o mar, onde se reflete sua brancura cristalina. A inaudita catástrofe deixou seu selo indelével de tristeza e desolação naquelas paragens. Raramente passa por algum daqueles vales fundos e escarpados um grupo de nômades a caminho do interior.Isto é, Sidim. Onde terminam as águas pesadas e oleosas, ao sul, termina também, bruscamente, o impressionante cenário de rochedos, dando lugar a uma região pantanosa de água salgada. O solo avermelhado é riscado por inúmeros ribeiros, perigosos para o viajante incauto. Essa baixada estende PARA O O mar Morto: a) 2000 a.C, antes da afundação de Sodoma e Gomorra; b) 1900 a.C, depois da catástrofe se a grande distância para o sul até o deserto vale de Araba, que chega até o mar Vermelho. A oeste da costa sul, na direção do país do meio-dia bíblico, o Neguev, estende-se um espinhaço de quarenta e cinco metros de altura e quinze quilômetros de comprimento na direção norte-sul. O sol, batendo nas suas encostas, produz reflexos de diamante. É um estranho fenômeno da natureza. A maior parte dessa pequena serra é constituída de puros cristais de sal. Os árabes chamam-lhe Djebel Usdum, nome antiqüíssimo em que está contida a palavra “Sodoma”. A chuva desloca numerosos blocos de sal que rolam até a base. Esses blocos têm formas caprichosas e alguns deles são eretos como estátuas. Às vezes em seus contornos a gente pensa distinguir, de repente, formas humanas. As estranhas estátuas de sal trazem logo à lembrança a história da Bíblia sobre a mulher de Lot, que foi transformada em estátua de sal. E tudo o que está próximo ao mar salgado ainda hoje se cobre em pouco tempo com uma crosta de sal. Até hoje, as peregrinações de Abraão continuam a intrigar os cientistas. Salientou-se que, além do que diz a Bíblia, não há confirmação alguma da permanência de Abraão no Egito, e mesmo os textos bíblicos mencionam-na somente de passagem, relatando um truque empregado por Abraão, pelo medo que teve de ser assassinado por sua linda esposa. Da mesma forma, essa passagem ainda tem aquele duplo sentido do qual se falará no posfácio desta nova edição revista. A respectiva menção aparece por duas vezes (Gênese 12.9 e 20.1), só que a segunda menção, "E Abraão partiu dali para a parte do meio-dia, habitou entre Cades e Sur e viveu como peregrino em Gerara" (entre Gaza e Beersheba), não fala mais no Egito. Em todo caso, seja como for, ou como se queira interpretar aqueles textos, dificilmente o relato poderia ser considerado como histórico. Acresce-se o fato de que, segundo as pesquisas mais recentes, os afrescos na tumba de Chnum-hotep, em Beni Hassan, não se enquadram, incondicionalmente, nas crônicas bíblicas dos patriarcas, visto que as caravanas ali retratadas usam o burro, como seria de se esperar de caravanas ao redor de 1900 a.C, conquanto a Bíblia atribui camelos a Abraão e seus seguidores, e, segundo a opinião vigente, esses últimos seriam os contemporâneos daquelas caravanas. No entanto, há uma diferença enorme entre o uso dessas duas espécies de montaria e besta de carga, quanto à sua autonomia, seus custos, sua mobilidade e, com isso, a segurança da caravana com a qual seguiram. A introdução do camelo como montaria e besta de carga equivale a uma revolução no sistema do transporte do antigo Oriente. Em outra parte tornaremos a tratar do assunto com maiores detalhes. No entanto, em que época aconteceu tal "revolução"? Também em data recente, os zoólogos especializados em animais domésticos, bem como os orientalistas, estudaram o assunto sem lograr resolvê-lo. Assim, continuam como "animais problemáticos" tanto os famosos "camelos dos patriarcas" quanto os dos mercadores que levaram José para o Egito. (Este ponto será igualmente tratado no fim do capítulo seguinte.) Da mesma forma, a tradição de Sodoma e Gomorra parece ser ainda mais problemática do que a referente aos camelos de Abraão. Antes de mais nada, convém frisar que está fora de qualquer cogitação a hipótese segundo a qual a depressão do rio Jordão teria se originado somente há uns quatro milênios, pois, conforme as pesquisas mais recentes, a origem dessa depressão remontaria ao Oligoceno (Terciário, entre o Eoceno e o Mioceno). Portanto, neste caso é preciso calcular não em milhares, mas sim milhões de anos. Embora, em tempos posteriores, fosse comprovada uma atividade vulcânica mais intensa, relacionada com a abertura da depressão do rio Jordão, mesmo assim chegamos a parar no Plistoceno, encerrado há uns dez mil anos, e ficamos longe do chamado "período dos patriarcas", convencionalmente datado no terceiro ou até segundo milênio antes de Cristo. Ademais, justamente ao sul da península de Lisan, onde supostamente teria acontecido o ocaso de Sodoma e Gomorra, perdem-se todos os vestígios de erupções vulcânicas. Em outras palavras, naquela área as condições geológicas não permitem comprovar uma catástrofe ocorrida em época geológica bem recente, que destruiu cidades e foi acompanhada por violentas erupções vulcânicas. Por outro lado, o que se achou a respeito da entrada do mar Morto na bacia do sul, mais rasa? No decorrer de sua história bastante movimentada, o mar Morto (e seus antecessores no Plistoceno) estendeu-se, freqüentemente, além da atual bacia meridional, invadindo o Uadi e ‘Arab. Por vezes, seu nível ficou até cento e noventa metros mais alto do que hoje. Naqueles tempos, o lago imenso ali represado encheu toda a depressão do Jordão, desde o Uadi e ‘Arab, e subiu até o lago de Genesaré. Em seguida, esse lago diminuiu, como o atestam nada menos que vinte e oito antigos terraços nas suas margens, ou, possivelmente, até secou, e somente depois (presumivelmente, acompanhado por fortes tremores de terra) houve a formação do mar Morto. Mas igualmente esse acontecimento ocorreu ainda em fins do Plistoceno, quando, embora o homem já existisse, ainda não havia cidades. Todavia, há uma vaga possibilidade de que se teria tratado de experiências vividas naquela região pelo homem da Idade da Pedra, que, transmitidas de boca em boca, geração após geração, criaram as tradições das “cidades devastadas” e vieram a dar origem à tradição em apreço, pois essa tradição parece ser muito antiga, bem mais antiga do que se supôs até agora. Logo mais, voltaremos ao assunto. Decerto, houve terremotos no mar Morto em tempos posteriores, como, por exemplo, o ocorrido em 31 a.C, cujos horrores foram relatados por Flávio Josefo, bem como o registrado em Qirbet Qumran (local do achado dos famosos “rolos manuscritos do mar Morto”), onde persistem os vestígios da destruição então causada. Contudo, em parte alguma há indícios de uma catástrofe que, no início do segundo milênio antes da nossa era, teria aniquilado cidades inteiras. Aliás, nomes de locais geográficos, como Bahr ei Lat (“mar de Lot”), termo árabe para o mar Morto, Djebel Usdum (“monte de Sodoma”) e Zoar, não precisam necessariamente ser oriundos de uma tradição autêntica, independente, imediata, primária e paralela à Bíblia. É bem possível que, posteriormente e em aditamento aos relatos bíblicos, esses locais recebessem seus nomes (no caso, poderia tratar-se de uma mera “tradição secundária”). Situação análoga apresenta-se com referência ao “canal de José” (em árabe: Bahr Yusuf), em Fayum, no Egito, a ser mencionado no próximo capítulo. Aliás, o “José egípcio” da Bíblia existe também na tradição islâmica, e provavelmente o nome do respectivo curso de água poderia (ou deveria) estar relacionado com ele. Foi apenas recentemente que a escavação do Tell el-Mardikh, na Síria setentrional (ao sul de Alepo), conduzida pelo cientista italiano Giovanni Pettinato, causou sensação. Ali, Pettinato achou Ebla, uma cidade do terceiro milênio antes da era cristã, e a esse respeito foram três os fatos que causaram espécie. Primeiro, em tempos pré-históricos, existia ali uma civilização avançada, com uma estrutura social altamente diferenciada para a época; segundo, Ebla possuía um rico arquivo de tabuinhas de barro. Como costuma acontecer com todos esses arquivos, sua descoberta promete uma série de conhecimentos novos, quando, por outro lado, tais noções recém-adquiridas bem poderiam abalar algumas das doutrinas até então consideradas certas e garantidas. Recentemente, um colega alemão do Prof. Pettinato comentou: “Depois de estudados e explorados os textos, provavelmente poderemos esquecer os resultados obtidos em todo um século de pesquisas do antigo Oriente”. Contudo, a terceira e, no caso, a mais importante sensação causada pela descoberta do Prof. Pettinato prende-se ao fato de os textos de Ebla conterem nomes que nos são familiares pela leitura da Bíblia e, assim, aparecem no terceiro milênio antes de Cristo! Ali são mencionados tanto o nome de Abraão quanto os nomes das cidades pecadoras de Sodoma e Gomorra, aniquiladas pelo fogo, de Adma e Zeboim, no mar Morto. Aliás, quanto a isso, há um certo ceticismo entre alguns colegas do Prof. Pettinato. Será que ele interpretou corretamente aqueles textos? Sem dúvida, pois como já mencionamos em outro trecho, os nomes dos patriarcas foram encontrados também em outros locais. Mas o que se deve pensar do fato de os nomes Sodoma e Gomorra constarem de um arquivo encontrado na Síria, terceiro milênio antes de Cristo? Assim, será que essas cidades existiram de fato? Ou será que sua tradição remonta a tempos remotos, a ponto de antecederem o início convencionado para o "tempo dos patriarcas"? Decerto, ainda levará muito tempo para se encontrar respostas a todas essas perguntas. Em geral, o cientista não costuma ir à cata de sensações, e falta muito para reunirmos as condições necessárias para avaliar, sem sombra de dúvida, quanto de realmente sensacional há na arqueologia bíblica do Tell el-Mardikh, descontado todo sensacionalismo. Prancha I - Foto: Daniel Blatt, Jerusalém; Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz, Berlim. — O rio Jordão, na Galiléia. A artéria vital da Terra Santa, no trecho norte do seu curso. Prancha II - Werner Braun, Jerusalém; Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz, Berlim — Uadi el-Kelt.- Quanto mais ao sul, tanto mais o vale do Jordão afunda no solo, mais inóspita se torna a paisagem, mais íngremes e bizarros se apresentam os vales adjacentes da depressão do Jordão. Eis a garganta, rochosa e selvagem, do Uadi el-Kelt. Outrora, o caminho de Jerusalém para Jericó, a chamada "vereda de sangue", local da divulgadíssima parábola do bom samaritano, passava por este sombrio vale desértico (provavelmente, o "vale das sombras da morte", decantado pelo salmista). Prancha III - Foto: Werner Braun, Jerusalém; Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz, Berlim. — Jericó antiga, torre fortificada da Idade da Pedra. — A pouca distância da desembocadura do Uadi el-Kelt, na depressão do Jordão, situa-se Jericó, "a cidade mais antiga do mundo". Escavações arqueológicas, feitas nesse local, trouxeram à luz do dia fortificações, como a torre na foto (a formação circular, à direita), cuja idade ultrapassa em alguns milênios a das muralhas de todas as demais cidades conhecidas ao redor do golfo, datando ainda do Neolítico, de época anterior à da invenção da cerâmica.
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