HISTÓRIA DO EGITO
Não se datar, com precisão, quando chegaram os primeiros colonizadores aos territórios egípcios.
Quanto mais recuamos no tempo, mais a cronologia torna-se imprecisa.
Sabemos, contudo, que os primeiros habitantes dessa região foram nômades.
Após uma vida de árduas e incômodas peregrinações, eles começaram a organizar-se em pequenos Estados.
Essas diminutas e inexpressivas unidades políticas conhecidas como nomos, foram agrupando-se com o passar dos séculos, até formarem dois grandes reinos: o Alto Egito, no Sul;
e, o Baixo Egito, no Norte.
Ambos estavam localizados, respectivamente, no Vale do Nilo e no Delta do mesmo rio.
Entre ambas as regiões havia um forte contraste.
Seus deuses eram diferentes, como diferentes eram, também, seus dialetos e costumes.
Até mesmo a filosofia de vida desses povos eram marcadas por visíveis antagonismos.
Declara o egiptólogo Wilson:
"Em todo o curso da história, essas duas regiões se diferenciaram e tiveram consciência da sua diferenciação.
Quer nos tempos antigos, como nos modernos, as duas regiões falam dialetos muito diferentes e vêem a vida com perspectivas também diferentes.
" Sobre essa época, escreve Idel Becker:
"Neste período pré-dinástico, o desenvolvimento da cultura egípcia foi, quase totalmente, autóctone e interno.
Houve apenas, alguns elementos de evidente influência mesopotâmica: o selo cilíndrico, a arquitetura monumental, certos motivos artísticos e, talvez, a própria idéia da escrita.
Há, nessa época, progressos básicos nas artes, ofícios e ciências.
Trabalhou-se a pedra, o cobre e o ouro (instrumentos, armas, ornamentos, jóias).
Havia olarias; vidragem; sistemas de irrigação. Foi-se formando o Direito, baseado nos usos e costumes tradicionais - leis consuetudinárias."
1 - A unificação do Egito Em conseqüência de suas muitas diferenças, o Alto e o Baixo Egito travaram violentas e desgastantes guerras por um longo período.
Essas constantes escaramuças enfraqueciam ambos os reinos, tornando-os vulneráveis a ataques externos. Consciente da inutilidade desses conflitos, Menés, rei do Alto Egito, conquista o Baixo Egito.
Depois de algumas reformas administrativas, esse monarca (para alguns historiadores, uma figura lendária) unificou o país, estabeleceu a primeira dinastia e tornou Tínis, a capital de seu vasto império.
A unificação do Egito ocorreu, de acordo com cálculos aproximados, entre 3.000 a 2.780 a.C.
Nesta mesma época, os egípcios começaram a fazer uso da escrita e de um calendário de 365 dias. Unificados, o Alto e Baixo Egito transformaram-se no mais florescente e poderoso império da antigüidade.
Os reis iniciaram a construção das grandes pirâmides, que lhes serviu de tumba.
Por causa desses arroubos arquitetônicos, receberam o apelido de "casa grande" - faraó.
Então, a cultura egípcia alcançou proporções consideráveis.
No final do Antigo Império, que abrange o período de 2.780 a 2.400 a.C, o poder dos faraós começou a declinar.
O fim dessa era de glórias é marcado por revoltas e desordens, ocasionadas pelos governadores dos nomos. Uma febre de independência alastra-se por todo o pais.
Cresce, cada vez mais, o poder da nobreza; a influência da realeza decai continuamente. Aproveitando-se desse caos generalizado, diversas tribos negróides e asiáticas invadem o país. Graças, entretanto, a intervenção dos faraós tebanos, o Egito consegue reorganizar-se, pelo menos até a agressão hicsa.
2 - A invasão dos hicsos Não obstante a segurança trazida pelos príncipes de Tebas
(11* dinastia) e pelas conquistas político-sociais do povo, o Egito começa a sofrer incursões de um bando aguerrido de pastores asiáticos.
Nem mesmo o prestígio internacional dos faraós seria suficiente para tornar defensáveis as fronteiras egípcias. Esses invasores, que dominariam o Egito por 200 anos, aproximadamente, são conhecidos como hicsos.
Eles iniciam sua dominação em 1.785 e são expulsos por volta de 1580 a.C.
Idel Becker, com muito critério, fala-nos acerca desse conturbado período:
"Esta é a época mais confusa e discutida da história do antigo Egito: um período de invasões e de caos interno.
Os hicsos - conglomerado de povos semitas e arianos, invadiram o Egito (através do istmo que o ligava à península do Sinai), venceram os exércitos de faraó e dominaram grande parte do país. Possuíam cavalos e carros de guerra (com rodas);
e armas de bronze (ou talvez, mesmo, de ferro), mais bem acabadas e mais fáceis de manejar do que as dos egípcios. Tudo isso explica a sua superioridade bélica e os seus triunfos militares.
Os hicsos talvez estivessem fugindo da pressão dos invasores indo-europeus (hititas, cassitas e mitanianos), sobre o Crescente Fértil." Com os hicsos, acrescenta Becker, devem ter entrado no Egito os hebreus.
3 - Novo Império Com a expulsão dos hicsos, renasce o Império Egípcio com grande pujança. Com Ames I, os faraós tornaram-se imperialistas e belicosos.
Tutmés III, por exemplo, conquistou a Síria e obrigou os fenícios, cananitas e assírios a pagarem-lhe tributo. A expansão egípcia, entretanto, esbarrou nos interesses dos poderosos hititas, senhores absolutos da Ásia Menor. Na ocasião, o célebre faraó,
Ramsés II fez ingentes esforços para vencê-los.
Como não conseguiu o seu intento, assinou com o reino hitita um tratado de paz, que vigorou por muitos anos.
Foi durante o Novo Império (1580-1200 a.C), que os israelitas começaram a ser escravizados pelos faraós.
4 - Decadência Após o Novo Império, o Egito começou a sofrer sucessivas intervenções:
líbia, etíope, indo-européia, assíria, persa, grega e romana. Em linhas gerais, essa nação, cujo passado foi tão glorioso, pertenceu ao Império Romano, durante
400 anos;
Ao Império Bizantino, durante 300 anos.
No Século VII d.C, fica sob a tutela dos muçulmanos.
A partir de 1400, torna-se possessão turca. No Século XIX, fica sob a custódia franco-inglesa.
No início deste Século, torna-se protetorado inglês.
Em 1922, todavia, conquista sua independência. Hoje, porém, não passa de um apagado reflexo de sua primeira glória.
II - GEOGRAFIA DO EGITO Netta Kemp de Money descreve o antigo Egito:
"O Egito da antigüidade se assemelhava em sua forma a uma flor de lótus (planta importante na literatura e na arte egípcia), no extremo de um talo sinuoso que tem à esquerda e um pouco abaixo da própria flor, um botão de flor.
A flor é composta pelo Delta do Nilo, o talo sinuoso é a terra fértil que se estende ao longo do dito rio, e o botão é o lago de Faium que recebe o excedente das inundações anuais do Nilo".
O Egito atual tem o formato de um quadrado.
Localizado no Nordeste da África, limita-se ao norte, com o mar Mediterrâneo; a leste, com Israel (e, também, com o mar Vermelho); ao sul, com o Sudão; a oeste, com a Líbia. De sua área, de quase um milhão de quilômetros quadrados, 96 por cento são compostos de terras áridas.
Sua população, de 45 milhões de habitantes, é obrigada a viver com os 4 por cento de terras cultiváveis.
Localizava-se o Alto Egito no Sul do atual território egípcio.
Essa região, chamada de Patros pelos hebreus (Jr 44.1,15), é constituída por um estreito vale ladeado por penedos de formação calcária.
O Baixo Egito, por seu turno, localizava-se no Norte e sua área mais fértil encontra-se no Delta.
O Egito, no entanto, não existiria sem o Nilo.
Esse rio é o mais extenso do mundo, com um percurso de 6.400 km com suas vazantes, fertiliza vastas extensões de terra, tornando possível fartas semeaduras. Heródoto, com muita razão, disse ser o Egito um presente do Nilo.
Em seu livro Geografia das Terras Bíblicas, afirma o pastor Enéas Tognini:
"Sem o Nilo, o Egito seria um Saara - terrível e inabitado.
O Nilo proporcionou riquezas aos faraós que puderam viver nababescamente, construindo templos suntuosos, monumentos grandiosos, palácios de alto luxo, pirâmides gigantescas e a manutenção de exércitos bem armados que, não somente protegiam o Egito, mas tomavam, nas guerras novas regiões.
Os egípcios não tinham necessidade de observar se as nuvens trariam chuvas ou não.
O Nilo lhes garantia a irrigação e as suas águas lhes davam colheitas fartas e certas.
É fato que uma seca poderia trazer pobreza à terra, como aconteceu no tempo de José.
Se a cheia fosse além dos limites, as águas poderiam arrasar cidades, deixando o povo desabrigado e prejudicariam as safras. Mas, tanto secas como enchentes eram raras.
O Nilo era então, como é hoje, a vida do Egito e o principal fator de suas múltiplas organizações, simples algumas e sofisticadas e complexas outras".
III - A GRANDEZA DO EGITO
Os egípcios deixaram um marco de indelével grandeza na História.
Desde as pirâmides às conquistas científicas e tecnológicas, foram magistrais.
Haja vista, por exemplo, os arquitetos modernos que continuam a contemplar, com grande admiração, os monumentos piramidais construídos pelos faraós.
Desta forma Halley descreve a Grande Pirâmide de Queops:
"O mais grandioso monumento dos séculos. Ocupava 526,5 acres, 253 metros quadrados (hoje 137), 159 m de altura (hoje. 148).
Calcula-se que se empregaram nela 2.300.000 pedras de 1 metro de espessura média, e peso médio de 2,5 toneladas.
Construída de camadas sucessivas de blocos de pedra calcária toscamente lavrada, a camada exterior alisada, de blocos de granito delicadamente esculpidos e ajustados.
Estes blocos exteriores foram removidos e empregados no Cairo.
No meio do lado norte há uma passagem, 1 m de largura por 130 de altura, que leva a uma câmara cavada em rocha sólida, 33 m abaixo do nível do solo, e exatamente 180m abaixo do vértice; há duas outras câmaras entre esta e o vértice, com pinturas e esculturas descritivas das proezas do rei".
Os antigos egípcios destacaram-se, ainda, na matemática e na astronomia.
Há mais de quatro mil anos, quando a Europa revolvia-se em sua primitividade, os sábios dos faraós já lidavam com fórmulas para calcular as áreas do triângulo e do círculo e, também, do volume das esferas e dos cilindros.
Souto Maior fala-nos, com mais detalhes, acerca do avanço científico dos antigos egípcios: "Apesar de não conhecerem o zero, já resolviam nessa época equações algébricas.
Os seus conhecimentos astronômicos permitiram-lhes a organização de um calendário baseado nos movimentos do Sol.
A divisão do ano em doze meses de trinta dias é de origem egípcia; os romanos adotaram-na e ainda hoje é conservada com pequenas modificações.
A medicina egípcia também era surpreendentemente adiantada.
Chegaram a fazer pequenas operações e a tratar com habilidade as fraturas ósseas.
Pressentiram a importância do cora- ção e, na observação das propriedades terapêuticas de certas drogas, adquiriram alguns conhecimentos de farmaco-dinâmica".
IV - O EGITO E OS FILHOS DE ISRAEL
O relacionamento de Israel com o Egito remonta à Era Patriarcal.
Premidos pela fome e outras agruras, Abraão e Isaque desceram à terra dos faraós, onde sofreram sérios constrangimentos.
O primeiro e maior patriarca hebreu, por exemplo, esteve prestes a perder a esposa, cuja beleza embeveceu o rei daquela nação.
Não fosse a intervenção divina. Sara não seria contada entre as ilustres mães do povo israelita. Em sua velhice, Abraão recebe esta sombria revelação do Senhor:
"Saibas, de certo, que peregrina será a tua semente em terra que não é sua, e servi-los-ão; e afligi-los-ão quatrocentos anos; mas também eu julgarei a gente, a qual servirão, e depois sairão com grande fazenda.
E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. K a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia" (Gn 15.13-16).
1 - José, primeiro-ministro do Egito Estêvão, sábio diácono da igreja primitiva, conta-nos como José chegou a primeiro ministro do Faraó:
"E os patriarcas, movidos de inveja, venderam a José para o Egito. mas, Deus era com ele.
E livrou-o de todas as suas tributações, e lhe deu graça e sabedoria ante Faraó, rei do Egito. que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa.
Sobreveio então a todo o país do Egito e de Canaã fome e grande tributação; e nossos pais não achavam alimentos.
Mas, tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou ali nossos pais, a primeira vez. E, na segunda vez foi José conhecido por seus irmãos, e a sua linhagem foi manifesta a Faraó.
E José mandou chamar a seu pai Jacó e a toda sua parentela, que era de setenta e cinco almas" (At 7.9-14). Não obstante sua humilde condição de escravo,
José tornou-se primeiro-ministro do Faraó. ]
E, por seu intermédio, Deus salvou toda a descendência de Israel.
Não fosse o providencial ministério exercido por esse intrépido hebreu, a progênie abraâmica ver-se-ia em grandes dificuldades. Sua história é uma das obras-primas da humanidade.
José chegou ao Egito no Século XX a.C.
Nesse tempo, segundo os historiadores, os hicsos dominavam o país. Sendo, também, semitas, os novos senhores da terra não tiveram dificuldades em demonstrar sua magnanimidade aos hebreus. Mostrando-se liberais e generosos, ofereceram aos israelitas a região de Gósen, onde a linhagem abraâmica desenvolveu-se sobremaneira.
2 - Moisés Continua Estêvão a contar a história dos israelitas no Egito:
Aproximando-se, porém, o tempo da promessa que Deus tinha feito a Abraão, o povo cresceu e se multiplicou no Egito;
até que se levantou outro rei, que não conhecia a José.
Esse, usando de astúcia contra a nossa linhagem, maltratou nossos pais, a ponto de os fazer enjeitar as suas crianças, para que não se multiplicassem. Nesse tempo, nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três meses em casa de seu pai.
E, sendo enjeitado, tomou-o a filha de Faraó, e o criou como seu filho.
E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras.
"E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus irmãos, os filhos de Israel.
E, vendo maltratado um deles, o defendeu, e vingou o ofendido, matando o egípcio.
E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam.
E no dia seguinte, pelejando eles, foi por eles visto, e quis levá-los à paz, dizendo:
Varões, sois irmãos;
por que vos agravais um ao outro?
E o que ofendia o seu próximo o repeliu, dizendo:
Quem te constituiu príncipe e juiz sobre nós? Queres tu matar-me, como ontem mataste o egípcio?
"E a esta palavra fugiu Moisés, e esteve como estrangeiro na terra de Midiã, onde gerou dois filhos. E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor, no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo de um sarçal.
Então Moisés, quando viu isto, maravilhou-se da visão; e, aproximando-se para observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor:
"Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó.
E Moisés, todo trêmulo, não ousava olhar.
E disse-lhe o Senhor:
Tira as alparcas dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa:
Tenho visto atentamente a aflição do meu povo que está no Egito, e ouvi os seus gemidos, e desci a livrá-los.
Agora, pois, vem, e enviarteei ao Egito.
"A este Moisés, ao qual haviam negado, dizendo:
Quem te constituiu príncipe e juiz?
A este enviou Deus como príncipe e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera no sarçal. Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no mar Vermelho, e no deserto, por quarenta anos.
Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: ü Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis" (At 7.17-37).
Israel deixou o Egito no Século XV a.C. Depois do Êxodo, israelitas e egípcios voltariam a se enfrentar no tempo dos reis e no chamado período inter-bíblico.
Recentemente, com a independência do moderno Estado de Israel, as forças judaicas defrontaram-se com as egípcias diversas vezes.
O antagonismo entre ambos os povos é milenar. Entretanto, o futuro dessas nações será de paz e glória:
"Naquele dia haverá estrada do Egito até a Assíria, e os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria: e os egípcios adorarão com os assírios ao Senhor.
Naquele dia Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra. Porque o Senhor dos Exércitos os abençoará, dizendo:
Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança" (Is 19.23-25).
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