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DEFININDO O QUE É MILAGRE.

Milagres

1A  diferença  entre  naturalismo  e  supranaturalismo  não  é  exatamente  a  mesma que  existe  entre  crença  em  um  Deus  e  incredulidade. 
 O  naturalismo,   sem  deixar  de ser ele mesmo,  poderia admitir certa espécie de Deus. 
O grande evento  interligado a que  se  deu  o  nome  de  natureza  poderia  produzir  em  certo  estágio  uma  grande consciência  cósmica,   um  "Deus"  residente,   surgido  de  todo  o  processo  como  surge  à mente humana  (segundo os naturalistas) dos organismos humanos.
Um naturalista não  faria  objeção  a  esse  tipo  de  Deus,   pela  seguinte  razão: 
Um  Deus  assim  não ficaria  fora  da  natureza  nem  do  sistema  total,   não  existiria  "por  si  mesmo".
Continuaria sendo "o conjunto" que era o Fato básico e tal Deus seria simplesmente
uma das coisas (embora pudesse ser a mais interessante) contidas no fato básico. 
O que  o  naturalismo  não  pode  aceitar  é  a  ideia  de  um  Deus  que  se  coloca  fora  da
natureza e que fez a natureza.
Estamos  agora  em  posição  de  estabelecer  a  diferença  entre  o  naturalista  e  o supranaturalista a  despeito  do  fato  de  que  eles  não  têm  o  mesmo  conceito  da palavra  natureza. 
O  primeiro  acredita  que  um  vasto  processo  existe  "por  si  só"  no espaço  e  no  tempo,   e  que  nada  mais  existe,   o  que  chamamos  de  coisas  e acontecimentos  particulares  sendo  apenas  as  partes  em  que  analisamos  o  grande processo  ou  as  formas  que  ele  toma  em  dados  momentos  e  pontos  no  espaço.
  Esta realidade única e total é por ele chamada de natureza.
O  supranaturalista  acredita  que  existe  uma  coisa  independente  que  produziu  a estrutura  do   espaço  e  do  tempo  e  a  sequência  de  acontecimentos  sistematicamente ligados  que  os  enche.   Esta  estrutura  e  este  recheio  ele  chama  de  natureza. 
Ela  pode ser  ou  não  a  única  realidade  que  a  Coisa  Principal,   única,   tenha  produzido.   Podem existir outros sistemas adicionais a que chamamos natureza. Nesse  sentido  pode  haver  várias  "Naturezas". 
Este  conceito  deve  ser  mantido completamente  separado  do  que  é  comumente  denominado  "pluralidade  de mundos"  i.e. ,   sistemas  solares  diferentes  ou  galáxias  diferentes,   "universo-ilha" existindo  em  partes  amplamente  distantes  de  um  único  espaço  e  tempo. 
Essas, embora  remotas,  seriam  partes  da  mesma  natureza  como  o  nosso  próprio  sol;  elas
estariam  interligadas  por  se  acharem  relacionadas  umas  às  outras,   sendo  essas relações  espaciais  e  temporais,   assim  como  causais. 
 Este  entrelaçamento  recíproco dentro  de  um  sistema  é  justamente  o  que  faz  dele  o  que  chamamos  uma  natureza.
Outras  naturezas  poderiam  não  ser  absolutamente  espaços-temporais;  ou  se algumas  o  fossem,   seu  espaço  e  tempo  não  teriam  qualquer  relação  espacial  ou temporal  com  os  nossos. 
 Esta  descontinuidade,   esta  falha  de  interligação  é  que justificaria  o  fato  de  afirmarmos  tratar-se  de  naturezas  diferentes. 
 Isto  não  significa que  não  houvesse  absolutamente  qualquer  relação  entre  elas,   pois  estariam
associadas pela sua derivação comum de uma fonte única e sobrenatural.
Neste  aspecto  elas  seriam  como  novelas  diferentes  escritas  por  um  mesmo autor;  os acontecimentos  em  uma  história  não  teria relação  com  os  de  outra  exceto terem  sido inventados  pela  mesma  mente. 
A  fim  de  descobrir  a  relação  entre  elas você  precisa  reportar-se  à  mente  do  autor;  não  existe  ligação  em  nada  que  o  Sr. Pickwick  diz  no  "Pickwick  Papers"  com  o  que  a  Sra.   Gamp  ouve  em  "Martin Chuzzlewit". 
Da  mesma  forma  não  haveria  uma  ligação  normal  entre  um acontecimento  numa  natureza  com  outro  em  outra. 
Por  "relação  normal"  entende-se  aquela  que  ocorre  em  vista  do  caráter  dos  dois  sistemas.  Temos  de  incluir  a qualificação  "normal"  porque  não  sabemos  antecipadamente  se  Deus  não  poderia fazer  duas  naturezas  entrarem  em  contato  parcial  num  dado  ponto:  isto  é,   Ele
poderia  permitir  que  eventos  selecionados  em  uma  produzissem  resultados  na outra. 
 Haveria  então,   em  determinados  pontos,   uma  interligação  parcial;  mas  isto não  transformaria  as  duas  naturezas  em  uma  única,   pois  a  reciprocidade  total  que faz  uma  natureza  continuaria  ausente,   e  as  interligações  anômalas  não  surgiriam daquilo  que  cada  sistema  era  de  si mesmo,   mas  do  ato  divino  que  os  estava  unindo.
Se  tal  coisa  ocorresse,   cada  uma  das  duas  naturezas  seria  "sobrenatural"  em  relação
à  outra.
  Mas  o  fato  de  seu  contato  seria  sobrenatural  num  sentido  mais  a absoluto,não  por  ultrapassar  esta  ou  aquela  natureza,   mas  toda  e  qualquer  natureza. 
 Seria uma  espécie  de  Milagre. 
O  outro  tipo  seria  "interferência"  divina,   não  pelo  fato  de juntar as duas naturezas,  mas simples interferência.
Tudo  isto  é  puramente  especulativo  no  momento. 
 De  forma  alguma  se  deduz  do supranaturalismo  que  milagres  de  qualquer  espécie  ocorram realmente. 
Deus  (a coisa  primária)  pode  jamais  ter  interferido  no  sistema  natural  por  ele  criado.
  Se criou  mais  do  que  um  sistema  natural,   pode  ser  que  nunca  venha  a  provocar
qualquer colisão entre eles.
Esta  é,   porém,   uma  questão  a  ser  considerada.
  Se  decidirmos  que  a natureza  não  é  a  única  coisa  que  existe,   não  podemos  então  dizer  antecipadamente se  ela  está  ou  não  a  salvo  de  milagres. 
 Existem  coisas  fora  dela,   não  sabemos  ainda se  estas  podem  entrar. 
 Os  portões  talvez  estejam  fechados,   ou  talvez  não. 
Mas  se  o naturalismo  estiver  correto,   sabemos  então  antecipadamente  que  os  milagres  são impossíveis:  nada  pode  penetrar  na  natureza  vindo  de  fora  porque  não  há  nada  que
possa  entrar  desde  que  a  natureza  é  tudo. 
 Sem  dúvida,   os  acontecimentos  que  em nossa  ignorância  poderíamos  tomar  erroneamente  como  milagres  talvez  ocorram; mas,   na  realidade  (justamente  como  os  eventos  mais  comuns),   eles  não  passaram de um resultado inevitável do caráter de todo o sistema.
Nossa  primeira  escolha,   portanto,   deve  f icar  entre  o  naturalismo  e  o supranaturalismo porque ha coisas inesplicãveis e isso é milagre

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