Necessidade da Justificação: a condenação do homem.
"Como se justificará o homem para com Deus?" perguntou Jó (9:1).
"Que é necessário que eu faça para me salvar?" interrogou o
carcereiro de Filipos.
Ambos expressaram a maior de todas as perguntas: Como pode o homem acertar sua vida perante Deus e ter certeza da aprovação divina?
A resposta a essa interrogação encontra-se no Novo Testamento, especialmente na epístola aos Romanos, na qual se apresenta, em forma sistemática e detalhada, o plano da salvação.
O tema do livro encontra-se no capítulo 1:16,17, o qual se pode parafrasear da seguinte maneira:
O evangelho é o poder de Deus para a salvação dos homens, pois o evangelho revela aos homens como se pode mudar de posição e de condição, de maneira que eles
sejam justos perante Deus. Uma das frases proeminentes da mesma epístola é:
"A justiça de Deus." O inspirado apóstolo descreve a qualidade de justiça que Deus aceita, de forma que o homem que a possui tenha aceitação como justo perante ele. Essa justiça resulta da fé em Cristo.
Paulo demonstra que todos os homens necessitam dessa justiça de Deus, porque toda a raça pecou. Os gentios estão sob condenação.
Os passos de sua degradação foram claros: outrora conheceram a Deus (1:19,20); falhando em o servirem e adorarem, seu coração insensato se obscureceu (1:21,22); a cegueira espiritual os
conduziu à idolatria (verso 23) e a idolatria os conduziu à corrupção moral (vers. 24-31).
São indesculpáveis porque tinham a revelação de Deus na natureza, e a consciência que aprova ou desaprova seus atos. (Rom. 1:19,20; 2:14,15.)
O judeu também está sob condenação.
É verdade que ele pertence à nação escolhida, e conhece a lei de Moisés de há muitos séculos, mas transgrediu essa lei em pensamentos, atos e palavras (cap. 2).
Paulo, assim, estrondosamente, encerra toda a raça humana sob a condenação:
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.
Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rom. 3:19,20).
Qual será essa "justiça" de que tanto necessita o homem?
A própria palavra significa "retidão", ou estado de reto, ou justo.
A palavra às vezes descreve o caráter de Deus, como sendo isento de toda imperfeição ou injustiça. Quando aplicada ao homem, significa o estado de retidão diante de Deus.
Retidão significa "reto", aquilo que se conforma a um padrão ou norma. Por conseguinte, é o homem que se conforma à lei divina. Mas que acontecerá se esse homem descobrir que, em vez de ser "reto", ele é
perverso (literalmente "torto") sem poder se endireitar?
É então que ele precisa da justificação que é obra exclusiva de Deus.
Paulo declarou que pelas obras da lei ninguém será justificado. Essa declaração não é uma crítica contra a lei, a qual é santa e perfeita. Significa simplesmente que a lei não foi dada com
esse propósito de fazer justo o povo, e, sim, de suprir a necessidade duma norma de justiça.
A lei pode ser comparada a uma fita métrica que pode medir o comprimento do pano, sem, contudo, aumentar o comprimento. Podemos compará-la à balança que determina o nosso peso, sem, contudo, aumentar esse peso.
"Pela lei vem o conhecimento do pecado."
"Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus" (Rom.3:21). Notem a palavra "agora".
Alguém já disse que Paulo dividiu todo o tempo em "agora" e "depois". Em outras palavras, a vinda de Cristo operou uma grande mudança nas transações de Deus com
os homens. Introduziu uma nova dispensação.
Durante séculos os homens pecavam e aprendiam a impossibilidade de aniquilarem ou vencerem seus pecados.
Mas agora Deus, clara e abertamente, revelou-lhes um novo caminho.
Muitos israelitas julgavam que devia haver um meio de serem justificados sem ser pela guarda da lei; por duas razões:
1) perceberam um grande abismo entre as exigências de Deus para com Israel e seu verdadeiro estado espiritual.
Israel era injusto, e a salvação não podia proceder dos próprios méritos ou esforços.
A salvação teria que proceder de Deus, por sua intervenção.
2) Muitos israelitas reconheceram por experiência própria sua incapacidade para guardar perfeitamente a lei. Chegaram à conclusão de que devia haver uma justiça alcançável
independentemente de suas próprias obras e esforços.
Em outras palavras,-anelavam por redenção e graça. E Deus lhes assegurou que tal justiça lhes seria revelada. Paulo (Rom. 3:21) fala da justiça
de Deus sem a lei, "tendo o testemunho da lei (Gên. 3:15; 12:3; Gál. 3:6-8) e dos profetas (Jer. 23:6; 31:31-34)".
Essa justiça incluía tanto o perdão dos pecados como a justiça íntima do coração.
Na verdade, Paulo afirma que a justificação pela fé foi o plano original de Deus para a salvação dos homens; a lei foi acrescentada para disciplinar os israelitas e fazê-los sentir a
necessidade de redenção. (Gál. 3:19-26.)
Mas a lei em si não possuía poder para salvar, como o termômetro não tem poder para baixar a febre que ele registra. Seria o próprio Senhor, o Salvador do seu povo; e sua graça seria a sua única esperança.
Infelizmente, os judeus exaltaram a lei, imaginando que ela fosse um agente justificador, e elaboraram um plano de salvação baseado no mérito pela guarda dos seus preceitos e das tradiçõesque lhes foram acrescentadas.
"Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus" (Rom. 10:3).
Não conheceram
o propósito da lei. Confiaram nela como meio de salvação espiritual, ignorando a pecabilidade dos seus próprios corações, e imaginavam que seriam salvos pela guarda da letra da lei. Por essa
razão, quando Cristo veio, oferecendo-lhes a salvação dos seus pecados, pensavam que não precisavam dum Messias como ele. (vide João 8:32-34.)
O pensamento dos judeus era o de estabelecer rígidos requisitos pelos quais conseguiriam a vida eterna. "Que
faremos para executarmos a s obras de Deus?" perguntaram. E não se prontificaram a obedecer à indicação de Jesus:
"A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou" (João 6:28,29). Tão ocupados estavam em estabelecer seu próprio sistema de justiça, que perderam, por completo, a oportunidade de serem
participantes da justificação divinamente provida para os homens pecadores.
Em uma viagem, um trem representa o meio de conseguir um determinado alvo. Ninguém pensa em fazer do trem sua morada; antes, preocupa-se tão somente em chegar ao destino. Ao chegar a
esse destino, deixa-se o trem.
A lei foi dada a Israel com o propósito de conduzi-lo a um destino, e esse destino é a fé na graça salvadora de Deus. Mas, ao aparecer o Redentor, os judeus satisfeitos consigo mesmos, fizeram o papel do viajante que,chegando ao destino, se recusa a deixar o trem, embora o condutor lhe diga: "Estamos no fim da viagem"!
Os judeus se recusaram a deixar as poltronas do "trem do Antigo Pacto", muito embora o
Novo Testamento lhes assegurasse: "O fim da lei é Cristo", e que se cumpriu o Antigo Testamento. (Rom. 10:4.)
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