Possibilidades de perfeição.
O Novo Testamento apresenta dois aspectos gerais da perfeição:
1) A perfeição como um dom da graça, o qual é a perfeita posição ou estado concedido ao arrependido em resposta à suafé em Cristo.
O crente é considerado perfeito porque tem um Salvador perfeito e uma justiça perfeita.
2) A perfeição como realmente efetuada no caráter do crente.
É possível acentuar em demasia o primeiro aspecto e descuidar do Cristianismo prático (cuidado).
Tal aconteceu a certo indivíduo que, depois de ouvir uma palestra sobre a Vida Vitoriosa, disse ao pregador:"Tudo isso tenho em Cristo." "Mas o senhor tem isso consigo,agora, aqui em Glasgow?"
foi a serena interrogação.
Por outra parte, acentuando demais o segundo aspecto, alguns praticamente têm negado qualquer perfeição à parte do que eles encontram em sua própria experiência.
João Wesley (o fundador do Metodismo) parece haver tomado uma posição intermediária entre os dois extremos.
Ele reconhecia que a pessoa era santificada na conversão, mas afirmava a necessidade da inteira santificação como outra obra da graça.
O que fazia essa experiência parecer necessária era o poder do pecado, que era a causa de o cristão ser derrotado.
Essa bênção vem a quem buscar com fidelidade; o amor puro enche o coração e governa toda a obra e ação, resultando na destruição do poder do
pecado.
Essa perfeição no amor não é considerada como perfeição absoluta, nem tampouco isenta o crente de vigilância e cuidados constantes. Wesley escreveu: "Creio que a pessoa cheia do amor de Deus ainda está propensa a transgressões involuntárias.
Tais transgressões vocês poderão chamá-las de pecados, se quiserem; mais eu não."Diz MYER PERMAN".
Quanto ao tempo da inteira santificação, Wesley escreveu:
"É esta morte para o pecado e renovação no amor, gradual ou instantânea?
Um homem poderá estar à morte por algum tempo; no entanto, propriamente falando, não morre enquanto não chegar o instante em que a alma se separa do corpo; e nesse momento ele vive
a vida da eternidade.
Da mesma maneira a pessoa poderá estar morrendo para o pecado por algum tempo; entretanto, não está morto para o pecado enquanto o pecado não for separado de sua alma; é nesse momento
que vive a plena vida de amor.
E da mesma maneira que a mudança sofrida quando o corpo morre é duma qualidade diferente e infinitamente maior que qualquer outra que tenhamos conhecido antes, tão diferente que até então era impossível conceber, assim a mudança
efetuada quando a alma morre para o pecado é duma classe diferente e infinitamente maior que qualquer outra experimentada antes, e que ninguém pode conceber até que a experimente.
No entanto, essa pessoa continuará a crescer na graça, no conhecimento de Cristo, no amor e na imagem de Deus;
e assim continuará, não somente até a morte, mas por toda a eternidade. Como esperaremos essa mudança?
Não em um descuidado indiferentismo, ou indolente inatividade; mas em obediência vigorosa e universal, no cumprimento fiel dos mandamentos, em vigilância e trabalho, em negarmo-nos a nós mesmos, tomando
diariamente a nossa cruz; como também em oração fervorosa e jejum, e atendendo bem às ordenanças de Deus.
E se alguém pensa em obtê-la de alguma outra maneira (e conservá-la quando a haja obtido, mesmo quando a haja recebido na maior medida) esse alguém engana sua própria alma."
João Calvino, que acentuara a perfeição do crente pela consumada obra de Cristo, e que não era menos zeloso da santidade de que Wesley, que dá o seguinte relato da perfeição cristã:
"Quando Deus nos reconcilia consigo mesmo, por meio da justiça de Cristo, e nos considera como justos por meio da livre remissão de nossos pecados, ele também habita em nós, pelo seu Espírito, e santifica-nos pelo
seu poder, mortificando as concupiscências da nossa carne e formando o nosso coração em obediência à sua Palavra.
Desse modo, nosso desejo principal vem a ser obedecer à sua vontade e promover a sua glória. Porém, ainda depois disso, permanece em nós bastante imperfeição para repelir o orgulho e constranger-nos à humildade." ( Ecl. 7:20; 1Reis 8:46.)
Ambas as opiniões, a perfeição como dom em Cristo e a perfeição como obra real efetuada em nós, são ensinadas nas Escrituras; o que Cristo fez por nós deve ser efetuado em nós.
O Novo Testamento sustenta um ideal elevado de santidade e afirma a possibilidade de libertação do poder do pecado.
Portanto, é dever do cristão esforçar-se para conseguir essa perfeição. (Fil. 3:12; Heb.6:l.)
Em relação a isto devemos reconhecer que o progresso na santificação muitas vezes implica uma crise na experiência, quase tão definida como a da conversão.
Por um meio ou outro, o crente recebe uma revelação da santidade de Deus e da possibilidade de andar mais perto dele, e essa experiência é seguida por um conhecimento interior de ter ainda alguma contaminação. (Vide Isa. 6.)
Ele chegou a uma encruzilhada na sua experiência cristã, na qual deverá decidir se há de retroceder ou seguir avante, com Deus.
Confessando seus fracassos passados, ele faz uma reconsagração, e, como resultado, recebe um novo aumento de paz, gozo e vitória, e também o testemunho de que Deus aceitou sua consagração.
Alguns têm chamado a essa experiência uma segunda obra da graça.
Ainda haverá tentação de fora e de dentro, e daí a necessidade de vigilância (Gál. 6:1; ICor. 10:12); a carne é fraca e o cristão está livre para ceder, pois está em estado de prova (Gál.5:17; Rom. 7:18, Fil. 3:8); seu conhecimento é parcial e falho;
portanto, pode estar sujeito a pecados de ignorância. Porém ele pode seguir avante, certo de que pode resistir e vencer toda a tentação que reconheça (Tia. 4:7; 1 Cor. 10:13; Rom. 6:14; Efés. 6:13,14); pode estar sempre glorificando a Deus cheio dos frutos de justiça (1 Cor. 10:31; Col. 1:10); pode possuir a graça e o poder do Espírito e andar em plena comunhão com Deus (Gál. 5:22, 23; Efés. 5:18; Col. 1:10,11; 1 João 1:7); pode ter a purificação constante do sangue de Cristo e assim estar sem culpa perante Deus. (1 João 1:7; Fil. 2:15; 1Tess. 5:23).
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