Este é um texto sadio, que não pode ser condenado. Fundamentado na linguagem direta das Sagradas Escrituras, contém a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade (Lc. 22.19; I Co. 11.24).
É a intenção do Senhor Jesus Cristo que a Ceia do Senhor seja uma lembrança contínua pela Igreja de sua morte expiatória sobre a Cruz. O pão, partido, dado e comido, deveria lembrar os cristãos de Seu corpo.
Permita-me o leitor recordar que a doutrina da Liturgia da Comunhão está em precisa harmonia com a de nosso Catecismo. Destaquemos as seguintes expressões:
“De modo que devemos sempre recordar o imenso amor de nosso Mestre e único Salvador Jesus Cristo,que assim morreu por nós, e os inumeráveis benefícios que pelo verter de seu sangue ele obteve em nosso favor:
Ele instituiu e ordenou santos mistérios como penhores de seu amor, e para memória perpétua de sua morte, e para nosso incessante consolo.” “Ele instituiu, e em seu Santo Evangelho nos ordena a continuar um memorial perpétuo de sua preciosa morte até a sua volta”. “Tomai e comei, em recordação de que Cristo morreu por vós”. “Bebei, em recordação de que o sangue de Cristo foi vertido por vós.”
dado por nossos pecados. O vinho, derramado e bebido, deveria lembrar os cristãos de Seu sangue vertido por nossos pecados. O Senhor Jesus sabia o que havia com o homem. Ele sabia bem da escuridão, lentidão, frieza, dureza, estupidez, orgulho, auto-engano, preguiça e pretensão de donos da verdade, da natureza humana em assuntos espirituais.
Assim, ele cuidou para que sua morte pelos pecadores não fosse apenas registrada por escrito na Bíblia (ou ela poderia, assim, ser trancafiada em bibliotecas) ou deixada para os ministros proclamarem do púlpito (pois assim poderia ser detida por falsos
mestres),mas ela deveria ser exibida em sinais e emblemas visíveis, no pão e no vinho em uma ordenança especial. A Ceia do Senhor era uma garantia contra a memória fraca do homem.
Enquanto permanecer o mundo em sua ordem atual, aquilo que é feito à Mesa do Senhor proclama a sua morte até que ele venha (I Co. 11.26).
O Senhor Jesus Cristo bem sabia da inenarrável importância de sua própria morte pelo pecado como pedra fundamental da religião escriturística.
Ele sabia que sua própria satisfação pelo pecado como nosso substituto Seu sofrimento pelo pecado, o Justo pelos injustos, Seu pagamento de nossa enorme dívida em Sua própria pessoa, Sua completa redenção de nós outros pelo Seu sangue Ele sabia que essa era de fato a raiz do cristianismo, capaz de salvar e satisfazer as almas. Sem isto Ele sabia que Sua encarnação, milagres, ensinamentos, exemplo e ascensão não poderiam fazer qualquer bem ao homem; sem isto ele sabia que não haveria justificação, nem reconciliação, nem esperança, nem paz entre Deus e os homens. Sabendo de tudo isto, ele cuidou que sua morte, ao menos, não deveria ser esquecida.
Ele cuidadosamente estabeleceu uma ordenança, pela qual, por figuras vivas, seu sacrifício na cruz fosse mantido em memória perpétua.
O Senhor Jesus Cristo bem sabia da fraqueza e enfermidade mesmo do mais santo dos crentes. Ele sabia da absoluta necessidade de mantêlos em íntima comunhão com Seu sacrifício vicário, como Fonte de Sua vida interior e espiritual. Assim, Ele não apenas deixou para eles promessas nas quais suas memórias se alimentassem, e palavras que pudessem
trazer à mente; Ele misericordiosamente providenciou uma ordenança pela qual a verdadeira fé pudesse ser desperta, pela contemplação dos vivos emblemas de Seu Corpo e Sangue, e por cujo uso os crentes pudessem ser fortalecidos e renovados.
O fortalecimento da fé dos eleitos de Deus na expiação é um grande propósito da Ceia do Senhor. Agora volto-me do lado positivo para o lado negativo da questão, em verdadeira dor e relutância.
Mas é meu claro dever fazê-lo. Os ministros, como os médicos, devem estudar a doença, assim como a saúde, e demonstrar o erro assim como a verdade.
Permitam-me, então, tentar demonstrar quais não são os objetivos da Ceia do Senhor .
Jamais foi a intenção que ela fosse considerada um sacrifício.
Jamais foi a intenção que nós crêssemos que qualquer transformação ocorre com os elementos do pão e do vinho, ou que haja qualquer presença
corpórea de Cristo no Sacramento.
Tais coisas não podem, jamais, ser justa e honestamente extraídas das Escrituras.
Tais coisas não podem, jamais, ser justa e honestamente extraídas das Escrituras. Sejam examinadas imparcialmente as três narrativas evangélicas da Instituição, em Mateus,
Marcos e Lucas, e aquela dada por Paulo aos Coríntios, e não tenho dúvidas quanto ao resultado.
Elas ensinam que não há sacrifício, não há altar, não há mudança na substância dos elementos: o pão após a consagração ainda é, literal e verdadeiramente, pão; o vinho, após a
consagração, é verdadeira e literalmente vinho.
Em parte nenhuma do Novo Testamento vemos o ministro cristão chamado de sacerdote, e em parte nenhuma encontramos qualquer menção a sacrifício, senão aos de
oração, de louvor e de boas obras.
Paulo, ao escrever sobre o Sacramento,chama expressamente o pão consagrado de “pão”, e não de Corpo de Cristo, nada menos do que três vezes (I Co. 11.26, 27, 28).
Acima de tudo, permanece o irretorquível argumento de que, se Nosso Senhor estava de fato segurando Seu Corpo em suas mãos quando disse do pão“Este é meu corpo”, Seu corpo deve ter sido bem diferente daquele dos homens comuns.
É claro, se Seu corpo não era como o nosso, Sua própria e real humanidade se encerram. Nesse compasso, a bendita e consoladora doutrina da total identificação de Cristo com Seu povo, como verdadeiro homem, estaria completamente subvertida, e cairia por terra.
Mais uma vez, pode agradar a alguns considerar o capítulo 6 de João, onde Nosso Senhor fala de “comer sua carne e beber o seu sangue”como prova de que há uma presença corpórea literal de Cristo no pão e no vinho na Ceia do Senhor.
Porém, há uma total ausência de provas conclusivas de que este capítulo de fato se refere à Ceia do Senhor. Aqueleque sustentar que ele de fato se refere à Ceia do Senhor encontrar-se-á envolvido em consequências bastante constrangedoras.
Ele condena à morte eterna todos quantos não recebem a Ceia do Senhor.
Ele eleva à vida eterna todos quantos a recebem. Basta dizer que a maioria dos comentaristas protestantes nega de todo que o capítulo se refira à Ceia
do Senhor.
2. Passo a outra visão negativa do assunto.
A Ceia do Senhor jamais pretendeu conferir benefícios aos comungantes ex opere operato, ou seja, por virtude da mera recepção formal da ordenança.
Não deveríamos crer que ela produz qualquer bem a qualquer um, senão aos que a recebem com fé e entendimento.
Não se trata de um remédio ou simpatia que alguns chegan a afirmar,até pelo radio,funcionando mecanicamente, independentemente do estado mental em que é
recebido.
Não pode, por si mesma, conferir graça, onde graça já não existir antes. Ela não converte, justifica ou comunica bênçãos ao coração de um descrente. Não é uma ordenança para os mortos, mas para os vivos; não para os descrentes, mas para os que creem; não para o pecador impenitente, mas para o santo.
Quase que nos envergonha ter de gastar tempo escrevendo declarações tão batidas e bem-sabidas como estas.
A Palavra de Deus testifica claramente que alguém pode achegar-se à Mesa do Senhor e “comer e beber indignamente”, e assim “comer e beber juízo
para si” (I Co. 11.27, 29).
A tal testemunho, eu não acrescentarei uma só palavra.
Mas o verdadeiro cristão, que se alimenta especialmente da morte vicária de Cristo, e não de seu caráter, contemplará aquela morte proeminentemente exibida na Ceia do Senhor, e verá sua fé naquela morte fortificada pela participação no Sacramento.
A intenção era transportar sua mente de volta ao sacrifício uma vez feito no Calvário, e não meramente à encarnação; e nada menos que isso satisfará o coração de um verdadeiro
cristão.
Ora, acabo de afirmar qual a posição que, creio, devemos manter acerca do Sacramento da Ceia do Senhor. Negativamente, ela não deveria ser uma mera reunião social, nem ainda um sacrifício, nem tampouco uma ordenança que confira graça ex opere operato. Positivamente, a intenção é que ela seja “uma lembrança contínua do sacrifício da morte de
Cristo” e um fortificante e restaurador dos verdadeiros crentes.
Esta posição pode parecer simplória a alguns, tão simples que fique aquém da verdade. Que seja: não me envergonho dela. Quer os homens a ouçam,
quer a ignorem, estou convicto de que esta é a única postura que se harmoniza com as Escrituras e com os formulários da Igreja da Inglaterra.
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