2 Re 17,24-41: Origem dos samaritanos?
Os samaritanos surgiram quando o povo de Israel se misturou com pessoas de outros povos e crenças.
Depois do reinado de Salomão, o povo de Israel se dividiu em duas nações: Israel e Judá (1 Reis 12:20). Em Judá o povo continuou a adorar a Deus em Jerusalém, mas em Israel o povo se virou para a idolatria e misturou a adoração a Deus com outras religiões. A capital do reino de Israel era Samaria.
Este texto t e m efetivamente u m a importância fundamental para a compreensão deste problema, não tanto pelos elementos concretos que nos oferece, mas especialmente pelo quadro de f u n d o da situação que aí é traçada e por constituir a única alusão clara e explícita aos samaritanos n o âmbito d o A T . 2 R e 17 t e m c o m o objectivo, antes de mais, apresentar u m a explicação teológica para a queda d o reino
do Norte e a deportação dos seus habitantes. O motivo vem claramente expresso nos vv. 7-12: a idolatria.
E m seguida, o hagiógrafo chama a atenção de Judá, reino do Sul, para que não siga os mesmoscaminhos, preparando desta forma o povo para o castigo iminente que Javé p o d e fazer cair sobre ele (v. 19).
E m 2 R e 17,34ss temos u m a situação totalmente diferente, cuja finalidade é mostrar o carácter sincretista da população d o Norte.
O texto divide-se assim e m duas partes b e m distintas, tanto na sua temática c o m o n o objectivo que escondem.
l . ' - 2 R e 17,1-23 2.» — 2 Re 17,24-41 vv. 1-6: Situação histórica dos acontecimentos; vv. 25-28+32:
Situação histórica com referência direta aos estrangeiros que são ditos para povoar a Samaria e às suas práticas sincretistas;
7-18 + 20-23: «Teologia deuteronomista» sobre as causas da destruição do reino
do Norte;
Concluindo, pode constatar que tudo isto se apresenta como uma consequência da divisão do reino de David por Jeroboaão(v. 21). ( 33 + 41:
Conclusão.
No v. 29 temos a única referência explícita aos samaritanos (Shornrotiím).Esta alusão (vv. 29 e 32) aos templos que eles teriam construído nos «Altos» é apontada como funda- mento para dizer que aqui se situa a origem histórica dos samaritanos. Porém , uma pergunta se impõe:
Quem são afinal esses samaritanos?
Depois de elencar os vários povos estrangeiros trazidos pelo rei da Assíria para habitar as cidades da Samaria e de referir as diferentes divindades veneradas por estes, a alusão aos samaritanos
(aliás em definida pelo artigo: hasshomronim) aparece aqui de passagem e é em tudo secundária no contexto, pelo que facilmente leva a concluir que se trata duma ajunta posterior.
Por outro lado, o redator final do texto dá provas d u m a certa dificuldade na conciliação das diversas fontes o u tradições que serviram de base à sua redação.
Exemplos disso são os vv. 32 e 34:
v. 32: yereim 'et yehwah — «Tementes (veneravam) a Javé». v. 34: 'inani yere'tm 'et yehwah — «Não eram tementes (não veneravam) a Javé» 3.
O carácter concordantista d o texto vem ao de cima e m 2 R e 17,41, precisamente no versículo que lhe serve de síntese, r e t o m a n d o e m jeito de refrão o v. 33:'et yehwah hayü yere'ím w'et 'elohêhen hayâ 'obdim—«Eram tementes a Javé e serviam aos seus deuses (ídolos)».3ersículos mostram-nos b e m que o texto é
complexo, f r u t o talvez de diversas fontes que o autor procurou
harmonizar e m função d u m objectivo final que se propunha atingir,
recorrendo a u m a explicação de carácter etiológico bem evidente
na frase 'ad haiiôm hazzeh (até aos nossos dias, até hoje) que se encontra nos vv. que fazem de transição e que dão sequência ao longo do
discurso: vv. 23.24 e 41.
Além disso, e m 2 R e 17,28 temos a recordação do santuário de Betél que Jeroboão tinha mandado construir a fim de impedir que o povo do seu reino continuasse a subir a Jerusalém para aí prestar culto a Javé .
. Esta alusão ao templo de Betei pode ser u m indício da luta e m prol da unicidade cultual exercida, como sabemos,pelo alto clero de Jerusalém e pela teologia deuteronomista a qual se reforçará no período do pós-exílio, especialmente já no t e m p o dos Macabeus.
Temos assim que esta passagem (2 R e 17,24-41) enumera uma série de povos trazidos de fora com seus ídolos, p o n d o e m evidência
o fato dos cultos idolátricos terem sido misturados c o m o de Javé e a pluralidade dos santuários estabelecidos nos «Altos».— v . 29).
E m b o r a os samaritanos e o seu sacerdócio sejam aí referidos, não há uma condenação explícita acerca deles; o m e s m o acontece c o m Betei. O u t r o tanto não sucede j á e m relação aos cultos idolátricos importados pelos novos habitantes da terra. Estes é que são explcitamente condenados pelo seu sincretismo religioso, já que ao culto de Javé j u n t a r a m igualmente o culto dos seus ídolos. Porém, não se diz que os habitantes nativos, os samaritanos, fossem idólatras;40-44, temos aqui u m belo exemplo do processo chamado isto é, um tema que
vem retomado mediante uma expressão que faz a ligação com o que antes fora dito.
Neste caso, trata-se da passagem do v. 23 ao 24 (fim da 1." parte), o início do 34 (depois
da 1." conclusão do v. 33) e no fim como síntese do capítulo, abrindo assim o caminho para
uma condenação permanente dos samaritanos. 5 1 R e 12,29-33; 1 R e 13;
Am 7,10ss são muito duros na condenação que fazem já do altar de Betél e do sacerdócio não legítimo aí instalado.
O nosso texto de 2 R e 17 não faz mais do que retomar tais condenações no seu espírito, sem, no entanto, condenar Betéi como tal. Betei não é o único santuário de culto javista alem de Jerusalém; temos vários na diáspora, especialmente no Egito
: Elefantina, Leontópolis; 'Araq-el-'Einir na Transjordânia e, possivelmente, um templo essênio em Qumrãn. Ora, sobre estes nada se diz no AT em sentido de condenação. Isto pode ser um indício que a condenação de Betei se inscreve num quadro de luta posterior entre Jerusalém e o tempo do monte Garizim (Jo 4,20).
A teologia deuteronomista (Dt 12,11.14.18) em que se baseiam os redatores do Livro dos Reis foca com particular insistência esta unicidade cultual, previligiando Jerusalém em detrimento de todos os restantes lugares de culto.
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