De que forma 2 Crônicas 16.1 ("trigésimo sexto ano do reinado de Asa") pode concordar com 1 Reis 16.8 ("[...] Elá no vigésimo sexto ano do reinado de Asa
[...] tornou-se rei")?
Se Asa começou seu reinado em 911 a.C, o trigésimo sexto ano de seu reinado teria ocorrido em 876 ou 875 a.C. Ele reinou durante 41 anos (1 Rs 15.10); por isso,
essa data seria possível exceto pelo fato de que o próprio Baasa governou de 909 a 886.
Portanto, ele não poderia ter construído uma fortaleza em Ramá em 875, onze anos depois de sua morte. Existe aqui uma possível discrepância no Texto recebido.
Tem duas soluções possíveis.
Uma das possibilidades é que a frase (maleḵûṯ ’Asā), em 2 Crônicas 16.1, não se refira ao reinado do próprio Asa, mas deva ser entendido como "o reino de Asa", i.e.,
o reino de Judá, que se distingue do reino de Israel, o das dez tribos.
Visto que o Reino do Sul se iniciou sob Reoboão em 931 ou 930 a.C, o trigésimo sexto ano colocaria a expedição de Baasa em 895 que com toda a probabilidade é a data
correta. (Leon Wood, Israel's history, p. 346, registra esse fato como tendo acontecido no décimo sexto ano de Asa, ou 895.)
Isso significa que o cronista copiou a informação de algum registro mais antigo e oficial de Judá, que teria usado uma datação da "época", em vez da relativa ao reinado de determinado rei.
Entretanto, algum tempo depois, o cronista teria mudado o sistema de numeração, usando um método baseado nos reinados; é que não encontramos outro exemplo de contagem
com base em épocas, exceto em 2 Crônicas 15.19, que situa a guerra entre Asa e Baasa no trigésimo quinto ano de seu reinado. Jamieson (JAMIESON-FAUSSETBROWN, Commentary, 1: 274) prefere essa solução, dizendo:
"Os melhores críticos concordam em considerar essa data, calculada a partir da separação dos reinos e coincidindo com o décimo sexto ano do reinado de Asa.
É muito provável que esse método de cálculo fosse usado nos registros dos reis de Judá e de Israel, que seriam os anais públicos da época (v. 11) e a fonte de onde o historiador teria colhido sua história."
Em defesa dessa teoria, deve-se dizer que( maleḵûṯ )com freqüência se usa até mesmo em livros pós-exílicos com o significado de "reino" ou "domínio", em vez de"reinado" veja;(e.g., 2 Cr 1.1; 11.17; 20.30; Ne 9.35; Et 1.14 etc.) Em 1 Crônicas 17.14, essa palavra ("reino") é empregada com o sentido de "realeza" ou "domínio"pertencente a Iavé; em Ester 1.2 e 5.1, como o "reino" da Pérsia.
Não há paralelo, no entanto, ao referir-se ao reino (domínio) de uma nação como um todo, identificando-a com um determinado governante que surgiria mais tarde numa dinastia
governamental.
O fato de no registro da história posterior de Judá não existir exemplo dessa prática, nas Crônicas levanta uma grande dificuldade para aceitação, ainda que
evite a necessidade de emenda textual.
A outra solução, apresentada por Keil (KEIL & DELITZSCH, Chronicles p. 366-7), prefere considerar o número "trinta e seis" de 2 Crônicas 16.1 e o "trinta e cinco"
de 15.19 erros do copista, que deveria ter grafado "dezesseis" e "quinze",respectivamente.
De maneira alguma tais falhas ter-se-iam introduzido no texto houvesse o Vorlage registrado os números por extenso (para "dezesseis": šîššāh ‘āśār)
esses sinais não podem ter sido interpretados como "trinta e seis" (šelōšîm - wāšêš).
Mas se o número fosse grafado segundo a notação dos algarismos (que no hebraico é a do alfabeto, enquanto no egípcio o sistema era dos traços múltiplos,como se verifica nos papiros elefantinos), a palavra "dezesseis" poderia facilmente confundir-se com "trinta e seis".
A razão disso é que até o século VII a.C, a letra yod (= 10) era muito parecida com a lamed (= 30), a diferença eram dois tracinhos diminutos acrescentados à esquerda do traço vertical principal da primeira.
Em outras palavras, yod era e lamed era . Bastava uma pequena borradela ou o efeito do uso excessivo da coluna do rolo para que o yod ficasse parecido com um lamed
resultando daí um erro de vinte unidades.
É possível que tal falha tenha ocorrido primeiramente na passagem anterior, em 2 Crônicas 15.19 (cujo "trinta e cinco" teria sido erroneamente copiado de um original que trazia "quinze"); a seguir, para tornar esse erro coerente com 16.1, o mesmo escriba (ou talvez outro, posterior) entendeu que "dezesseis" deveria ser uma falha, sendo o correto "trinta e seis", e mudou o número na cópia que fazia.
Se essa é a verdadeira explicação para a discrepância, teria certa similaridade com o problema que surge em 2 Reis 18.13, em que os dados importantes exigem que se corrija de "décimo quarto ano do reinado do rei Ezequias" para "vigésimo quarto ano do reinado do rei Ezequias".
Outro exemplo desse tipo de erro ocorre em 2 Crônicas 36.9, que concede ao rei Joaquim a idade de oito anos à época em que ascendeu ao trono, enquanto na passagem paralela de 2 Reis 24.8 lemos o verdadeiro número: "dezoito". Outro exemplo ainda ocorre em 2 Crônicas 22.2, que registra a idade de Acazias, filho de Jeorão, como sendo "quarenta e dois" anos quando ele começou a reinar, mas 2 Reis 8.26 diz que ele tinha "vinte e dois" (provavelmente é o número correto).
Fonte;
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