TODOS OS PARENTES DESSE SOBERANO, QUARENTA E DOIS PARENTES DE
ACAZIAS, REI DE JUDÁ, E EM GERAL TODOS OS SACERDOTES DE BAAL, O
FALSO DEUS DOS TÍRIOS, AO QUAL ACABE MANDARA CONSTRUIR UM TEMPLO. Certa vez, Jeú fez uma visita a Jezreel, e a rainha Jezabel veio a uma janela,para vê-lo chegar. Estava adornada e bem vestida e disse ao vê-lo aproximar-se: "Eis o fiel servidor, que assassinou o seu senhor!" A essas palavras, Jeú ergueu os olhos, perguntou quem ela era e mandou que descesse. Ela não quis fazê-lo, e ele então ordenou aos eunucos que estavam com ela que a atirassem para baixo. Os homens obedeceram, e a miserável princesa, caindo, espatifou-se de tal modo sobre as pedras do calçamento que elas ficaram manchadas com o seu sangue. Ela morreu depois, sob as patas dos cavalos que lhe passaram por cima. Jeú ordenou que ela fosse sepultada com a honra devida à
grandeza de seu nascimento, sendo de família real, mas apenas foram encontradas as extremidades de seu corpo, pois os cães haviam comido o resto. Isso fez o novo rei lembrar a profecia de Elias, o qual predissera que ela morreria daquele modo, em Jezreel.
Acabe deixara setenta filhos, e estavam todos em Samaria. Jeú, para experimentar a disposição dos samaritanos para com ele, escreveu aos precepto-res dos jovens príncipes e aos principais magistrados da cidade, dizendo que escolhessem para rei um dos filhos de Acabe que julgassem digno de reinar e que se vingasse de quem lhe matara o pai, pois eles possuíam armas, cavalos, carros, soldados e praças-fortes.
Os magistrados e os habitantes, não se julgando em condições de resistir a um homem que matara dois reis tão poderosos, responderam-lhe que não conheciam outro soberano senão ele e que estavam prontos a fazer tudo o que ele lhes mandasse.
Diante de tal resposta, ele escreveu aos magistrados que, se deveras estavam assim dispostos, lhe mandassem as cabeças de todos os filhos de Acabe. Ao receber essa carta, mandaram eles chamar os preceptores dos príncipes e ordenaram-lhes que fizessem o que Jeú lhes mandara. Homens cruéis obedeceram no mesmo instante, puseram as cabeças num saco e enviaram-nas a )eú. Ele estava à mesa com alguns de seus familiares quando as trouxeram, e ordenou que as colocassem em dois montes de ambos os lados da porta do palácio. No dia seguinte, de manhã, foi vê-las e disse ao povo:
"É verdade que matei o rei meu senhor. Mas quem matou estes?"
Queria assim dar-lhes a
entender que tudo acontecera por vontade de Deus e por ordem dEle, pois, como fora predito pelo profeta Elias, Ele exterminaria Acabe e toda a sua descendência. Mandou em seguida matar todos os parentes de Acabe que ainda estavam vivos e depois partiu para Samaria. Encontrou pelo caminho quarenta e dois parentes de Acazias, rei de Judá, e perguntou-lhes para onde iam. Responderam que iam saudar Jorão, rei de Israel, e Acazias, o rei que estava com ele, pois não sabiam que ele havia matado ambos.
Jeú mandou prendê-los e os fez morrer também. Logo depois, Jonadabe, que era um homem de bem e seu velho amigo, veio procurá-lo e louvou-o por haver fielmente cumprido as ordens de Deus, exterminado toda a descendência de Acabe. Jeú disse-lhe que subisse ao seu carro para acompanhá-lo a Samaria e ter a satisfação de constatar que ele não perdoaria a um só dentre os maus, mas faria passar a fio de espada todos os falsos profetas e sedutores do povo, que o levavam a abandonar a Deus para adorar falsas divindades, pois nada poderia ser mais agradável a um homem de bem como ele que ver sofrerem os ímpios o castigo que merecem.
Jonadabe obedeceu, subiu ao carro e foi com ele a Samaria. Jeú continuou a procurar e a matar todos os parentes de Acabe e, para impedir que algum dos profetas dos deuses falsos daquele príncipe pudesse escapar, serviu-se de um ardil. Mandou reunir todo o povo e declarou que, tendo resolvido intensificar o culto que se prestava aos deuses de Acabe, nada queriam fazer acerca daquele assunto sem o parecer dos sacerdotes e dos profetas.
Assim, queria que todos, sem exceção, viessem ter com ele, a fim de oferecerem um grande número de sacrifícios a Baal, deus deles, no dia de sua festa, e quem faltasse seria castigado com a pena de morte. Marcou depois um dia para a cerimônia e mandou publicar a sua ordem em todas as partes do reino. Depois que chegaram os sacerdotes e os profetas, mandou entregar-lhes as vestes e, acompanhado por Jonadabe, seu amigo, foi encontrá-los no templo, cuidando para que
ninguém se misturasse a eles, pois, dizia ele, não queria que os profanos tomassem parte naquelas santas cerimônias.
Quando os profetas e os sacerdotes estavam se preparando para oferecer os sacrifícios, ele ordenou a oitenta de seus guardas, de toda confiança, que os matassem a todos, a fim de vingar com a morte deles o desprezo que por tanto tempo manifestaram para com a religião de seus antepassados. E ameaçou-os de morte também, caso poupassem um só deles. Os guardas executaram rigorosamente a ordem recebida e, também por ordem do rei, atearam fogo ao palácio real, a fim de purificar Samaria das muitas abominações e sacrilégios ali cometidos.
Baal era o deus dos tírios, ao qual Acabe, para agradar a Etbaal, rei de Tiro e de Sidom, seu sogro, mandara construir e consagrar um templo em Samaria, ordenando profetas e todas as outras coisas necessárias para prestar honra a esse deus. Jeú permitiu, no entanto, que os israelitas continuassem a adorar os bezerros de ouro.
Embora Deus tivesse isso como coisa muito desagradável, não deixou de prometer, por meio de seu profeta, que a posteridade de Jeú, por ter este castigado a impiedade, reinaria sobre Israel até a quarta geração.
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