Saulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao Sumo Sacerdote, e pediram lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. Mas, seguindo ele viagem e aproximandose de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu; e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te cumpre fazer. Os homens que viajavam com ele quedaram-se emudecidos, ouvindo, na verdade, a voz, mas não vendo ninguém. Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via coisa alguma; e, guiando-o pela mão, conduziram-no a Damasco (At. 9,1-8). Paulo, nascido com o nome Saulo (Shaul, em hebreu), é uma das figuras mais complexas do Novo Testamento.
Ele nasceu em Tarso (Tersoos) na Cilícia, por volta do ano cinco da nossa era cristã. Esta cidade situava-se na verdade aos pés das montanhas do Tauro, ao sul da Turquia, na margem do Cidno. Era um importante centro comercial e mercantil, além de sede de uma das grandes universidades da época.
Além de próspera, os habitantes da cidade tinha o privilégio da cidadania romana sem os inconvenientes de uma ocupação militar; esta cidadania, de certa forma, foi de valia para Paulo, em vários momentos de sua vida. A infância de Saulo não é bem conhecida pelos biógrafos, mas sabe-se que ele foi criado na tradição judaica e conhecia bem as lendas e tradições de seu Tarso, antiga colônia fenícia, foi altamente helenizada sob os Selêucidas.
Sob o comando de Antônio, tornou-se cidade romana e capital da província romana da Cilícia. Em At 22,28 Paulo afirma que tem sua cidadania romana em virtude de seu nascimento. Os fariseus eram extremamente meticulosos no cumprimento da Lei, e Saulo foi criado neste judaísmo severo; portanto, legalmente era um fariseu. Pertencia à linhagem israelita, da tribo de Benjamim. Sua família era de artesãos, fabricantes de tendas.
Saulo falava o grego, o hebraico mishinico e o aramaico. É provável que tenha frequentado a universidade, porque conhecia bastante da filosofia estoica e cínica, bem como a cultura helenística, de um modo geral. Os fariseus eram uma das três grandes seitas judaicas da época; as outras eram os saduceus e os essênios. A seita dos fariseus, cujo nome provém do nome perash, que quer dizer “sepa Paulo, o Apóstolo .
Defendiam a tradição oral e o rigoroso cumprimento da pureza sacerdotal. Eles acreditavam na providência divina e admitiam o livre arbítrio. Acreditavam também em oposição aos saduceus – na sobrevivência da alma e na recompensa após a morte.
Os mais sábios procuravam interpretar a Lei (Torá), e foram de sua classe que se originaram os rabinos.
Em virtude de sua arraigada adesão à tradição, opuseram-se com violência aos ensinamentos de Jesus, o que explica o zelo fervoroso de Saulo contra os cristãos. Os saduceus – classe que devia prover os sacerdotes legítimos do Templo, embora isto nem sempre tenha ocorrido – e cujo nome provém de Sadoq, eram de tendência helenística e pertenciam à alta aristocracia. Possuíam uma tradição (halaká) baseada unicamente no Pentateuco.
Não aceitavam facilmente os profetas e seguiam estritamente a Torá (a “estrita observância”), no que se refere ao culto e ao sacerdócio; eram, então, bastantes conservadores em matéria legal e ritual, não admitindo interpretações da Lei. Contra os fariseus, negavam a imortalidade da alma e a ressurreição. Representavam o poder, a riqueza e a nobreza. Para eles, a santidade e a pureza só se exigiam no recinto do Templo. Os essênios, (eseos ou essenoi), por sua vez, eram uma seita esotérica (ou seja, cujos ensinamentos se destinam apenas aos “iniciados”), ligada ao gnosticismo e a vários movimentos esotéricos batistas, na Síria e na Palestina. Sofreram forte influência dos
mistérios órfico-pitagóricos e do neopitagorismo (Josefo diz que sua forma de vida imitava o que os gregos aprenderam de Pitágoras). Eram bem mais rigorosos que os fariseus e saduceus, tanto em seus ensinamentos religiosos quanto em seu estilo de vida, dominado pelo ascetismo (abstinência, autodisciplina, modéstia, discrição e pureza corporal e espiritual).
Outras facções judaicas conhecidas eram os “zelotes”, ou “zeladores”, ou “sicários”, que não formavam uma seita religiosa, e sim um movimento político clandestino que lutava contra a dominação do Império de Roma; e os levitas, descendentes de Levi, terceiro filho de Jacó, aos quais cumpria exercer tradicionalmente o sacerdócio e outras funções pertinentes ao culto, bem como cuidar da vigilância do santuário.
O estoicismo foi fundado por Zenão, por volta de 300 A.C. e sua linha de pensamento afirmava o primado da moral sobre os problemas teóricos. Tinha por meta uma vida contemplativa, distante dos problemas e cuidados da vida comum.
Punha a razão acima das emoções e dizia que o mundo e todas as coisas deste são regidos por uma Razão divina, segundo uma ordem necessária e perfeita. O estoicismo romano (com Epíteto) é uma das primeiras manifestações filosóficas pela qual se colocava como meta fundamental a salvação da alma.
A escola cínica, por sua vez, afirmava que o único fim do homem era a felicidade, e que esta estava unicamente na virtude de Paulo, as comodidades e os prazeres da vida comum, bem como as convenções humanas, em geral.
A filosofia judaica, que Paulo com certeza conheceu, sofreu forte influência do neoplatonismo, do aristotelismo e do Apóstolo Paulo. Aliás, a cidade de Tarso, nesta época, era famosa por seus mestres de filosofia.
Estrabão chegava a colocá-la acima até de Atenas e de Alexandria, e o famoso filósofo Atenodoro, que foi instrutor do imperador Augusto, nasceu lá. Além das práticas religiosas judaicas, é provável que Saulo conhecesse também algo dos chamados mistérios que eram cultos fechados aos profanos. Estes cultos antigos estavam espalhados por toda a região; havia, dessa maneira, múltiplas influências religiosas na cidade, mas Saulo era bastante apegado à sua tradição religiosa, e não se deixou influenciar. Como faziam todos os pais que se interessavam pelo futuro de seus filhos, também os pais de Saulo resolveram que ele se tornaria um rabino.
Sendo assim, com 14 anos ele foi mandado para Jerusalém. Lá, onde morou na casa de sua irmã, a sua educação foi completada pelo médico grego Gamaliel, discípulo de Hillel.
Seus estudos com Gamaliel e sua familiaridade com a lei de Moisés o levaram a inflamar o seu zelo contra os “Sectários do Caminho os cristãos”, como eram chamados os seguidores de Jesus. Não se sabe se Saulo estava em Jerusalém, por ocasião do julgamento e crucificação de Jesus.
Mas ele sabia muito bem da existência dessa nova seita funda por Jesus, e o seu furor voltou-se contra ela.
Em razão da rápida conversão de cerca de três mil pessoas, devido a uma pregação de Pedro logo após a crucificação, a intolerância contra os convertidos aumentou, e Saulo logo se colocou à frente dos arrebatados fariseus perseguidores para perseguir os seguidores de Jesus.
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