Peste negra e a Inquisição
Entre os anos de 1350, irrompeu devastadora a morte negra, uma peste virulenta que matou um terço de toda a população da Europa.
Mais uma vez a superstição, o complexo anti-semita e a ignorância encarregaram-se de lançar toda a culpa da desgraça sobre os judeus. Apesar de o papa Clemente VI inocentar os judeus, afirmando que eles morriam da peste tanto quanto os cristãos, o fanatismo falou mais alto que a razão e a ruína veio como uma tempestade.
Em mais de 350 cidades europeias os infelizes israelitas foram mortos à pauladas, afogados, queimados vivos, enforcados e estrangulados.
Infamante, sob todos os pontos de vista, foi o martírio dos judeus na Espanha e em Portugal, durante a vigência da Inquisição. Só em Toledo, em poucas semanas, foram queimados vivos 2.400 homens, acusados de infidelidade ao catolicismo.
Os que se diziam arrependidos da sua falsa conversão alcançavam a "misericórdia"de serem estrangulados antes de atirados às chamas "purificadoras".
Implantado em Portugal em 1536, esse nefasto tribunal agiu contra os judeus com tamanha crueldade que provocou um protesto do papa Paulo II, além de fazer com que o Concilio de Trento se ocupasse da sanha bárbara dos inquisidores lusos.
Mas o ódio aos judeus não começou com a Inquisição nem era uma característica exclusiva dos inquisidores, pois, emanado dos poderes eclesiásticos, ele transbordava nas massas fanatizadas, resultando sempre em sangrentos morticínios.
Eis um exemplo:
Vinte anos antes da instalação da Inquisição em Portugal, D. Manuel, fugindo de terrível peste, dirigiu-se no início de 1516 a Beja, em visita a sua mãe, D. Beatriz. Em Lisboa, onde a peste chegava a matar 230 pessoas por dia, levantavam-se preces públicas, organizavam-se procissões e penitências, implorando em gritos a clemência divina.
Foi então que a 15 de abril desse mesmo ano ocorreu o conhecido episódio na igreja de S. Domingos, que deu origem à feroz matança dos cristãos novos. Onde os cristãos velhos queriam ver um milagre um raio de luz filtrado pelos vitrais incidira sobre um crucifixo, aureolando o de luminosidade...
Um cristão novo que estava entre os presentes deixou escapar imprudentes frases de incredulidade. A multidão, indignada, logo saltou sobre o blasfemo, arrastando o pelo adro, assassinando-o e queimando lhe o cadáver.
Foi o rastilho!
Iniciou-se a caça aos recém-convertidos.
"Heresia! Heresia!" clamava-se.
E o povo arrastado pela exaltação percorria as ruas, praticando cenas horríveis. O motim tornava-se em revolução popular. As marinhagens de muitos navios estrangeiros, fundeados no rio, vieram associar-se à plebe amotinada.
Seguiu-se um longo drama da anarquia.
Os cristãos-novos que perambulavam desprevenidos pelas ruas foram mortos ou mal feridos, arrastados, às vezes semivivos, para as fogueiras que rapidamente se tinham armado, tanto no Rossio como nas ribeiras do Tejo.
Alagaram-se de sangue as ruas.
Queimaram-se casas.
Os cadáveres amontoavam-se em pilhas pela cidade.
As aterrorizadas vítimas nem mesmo escapavam nos templos aonde se acolhiam na derradeira esperança de se salvarem. Houve saques, violações de mulheres..
O anti semitismo, todavia, não desapareceu com as cruzadas nem com a Inquisição, mas continuou atuante em muitas partes do mundo.
Nos países do Leste Europeu, os apóstolos da "última fé verdadeira" fizeram inveja aos inquisidores espanhóis e portugueses. As mais cruéis carnificinas, os despedaçamentos e mutilações, o rasgar dos membros, a queima de pessoas vivas, tudo enfim foi feito em nome da religião; as hordas fanatizadas parece que conheciam uma só fórmula: o batismo, ou a morte...
Existem relatos e crônicas dessa época para a leitura dos quais são precisos bons nervos. É natural que a maioria dos judeus recusasse o batismo, com poucas exceções. Como o afirma um de seus historiadores, os judeus não queriam tornar-se cristãos, mas permanecer fiéis ao seu Deus e a sua nobilíssima tradição histórica, ainda que uma tal fidelidade trouxesse consigo o extermínio de seus filhos, a violação e a morte de suas mulheres.
Em grandes massas e aos milhares, enfrentaram a morte do martírio.Tudo isso sucedeu no curto espaço entre abril e novembro de 1648.
O número de judeus assassinados superou duzentos mil.
Referindo-se a esse sombrio acontecimento, o sábio judeu de Volínia, Natan ben Moshe Hannover, que se salvou fugindo para Amsterdã, publicou em 1653, em Veneza, um relato, em hebraico, informando ao mundo como morriam os judeus na Polônia,à mão dos cossacos e ucranianos:
Arrancavam-lhes a pele, e a carne jogavam aos cães; cortavam lhes as mãos e o pés, e deixavam à morte os corpos assim mutilados; rasgavam as crianças pelas pernas; assavam os bebês e obrigavam as mães a engolir a carne dos seus rebentos; abriam ventres de mulheres grávidas e com o feto que arrancavam batiam no rosto das vítimas; a muitas punham gatos vivos nos ventres abertos, costuravam o corpo com o gato dentro, cortando das mulheres os braços, para que não pudessem arrancar o animal, nem dar cabo de sua existência.
Isso foi em nome da religião e aprovado por dirigentes católicos.
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