Período intertestamentário ao estudarmos o Evangelho de Mateus é necessário fazermos antes uma ponte entre os dois Testamentos a fim de apreciar e entender corretamente o Novo Testamento.
Esta ligação é realmente essencial.
Sabemos que depois da profecia de Malaquias o céu ficou em silêncio por quatrocentos anos. Mas o que aconteceu nesses quatrocentos anos?
O céu ficou sem nenhuma comunicação por quatrocentos anos até que finalmente um anjo quebra o silêncio falando a um sacerdote que estava ministrando no templo de Jerusalém.
Esse sacerdote chamava-se Zacarias e encontrava-se queimando incenso junto ao altar diante do Santo dos Santos. O anjo lhe comunicou o nascimento de um filho, João Batista, que seria o precursor de Jesus (Lc 1.8–11).
Durante este intervalo de quatrocentos anos, embora houvesse um grande silêncio de Deus, eventos marcantes ocorreram na história do povo judeu. A história secular nos oferece muitas informações sobre esse tempo.
Chamamos esses 400 anos de silêncio de período intertestamentário e podemos defini-lo como um período histórico que ocorreu entre o final do Antigo Testamento e o início do Novo Testamento.
As datas aproximadas são de 424 a.C. a 5 a.CTemos pelo menos três razões para estudarmos este período são pelo menos três:
1. A razão histórica, que explica o fundo histórico do Novo Testamento.
2. A razão cultural, que explica a origem, o desenvolvimento dos costumes, das instituições e da vida espiritual do povo judaico no período do Novo Testamento.
3. A razão messiânica, que explica como Deus preparou o mundo para a vinda de Jesus Cristo, o Messias prometido.
Para entendermos bem esses 400 anos necessitamos dividi-los em quatro períodos: 1 Período persa 536–331 a.C.
2 Período grego 331–167 a.C.
2.a Período grego próprio 331–323 a.C.
2.b Período egípcio 323–198 a.C.
2.c Período sírio 198–167 a.C.
3. Período Macabeus 167–63 a.C.
4. Período romano 63–5 a.C.
Entenderemos esse longo período ao verificarmos os eventos que nele ocorreram que foram de grande importância Deus preparando o mundo para a primeira vinda de Jesus.
Para isso, começaremos analisando o final do Antigo Testamento e especificamente alguns detalhes do período persa. Após um longo tempo de apostasia, o Reino do Norte, Israel, foi conquistado e levado cativo pelos assírios, em 722 a.C.
Depois de 136 anos o Reino do Sul, Judá, recebeu tratamento semelhante nas mãos dos babilônicos, sob Nabucodonosor, em 586 a.C.
O exílio babilônico durou 70 anos e a ascensão e vitória de Ciro, o bom o bom rei a quem Deus chama de meu servo, cumpriu a profecia de Jeremias 25.12 e 29.10, com Isaías 44.28–45.4 e Daniel 9.2, fazendo com que Judá voltasse do exílio para Jerusalém no fim desse período.
Ciro permitiu o primeiro retorno, em que aproximadamente cinquenta mil exilados retornaram à Palestina, por volta de 536 a.C., com o e sobre a liderança do sacerdote Zorobabel (Ed 1.6).
Os eventos registrados no livro de Ester ocorreram na Pérsia, provavelmente entre 483 e 473 a.C., e localizam-se entre os capítulos 6 e 7 de Esdras.
Esdras, o escriba então também, retornou a Jerusalém com o segundo grupo de exilados, provavelmente em 457 a.C., e promoveu reformas civil e religiosas (Ed 7.10).
Teve ainda um terceiro grupo que retornou com Neemias, possivelmente em 444 a.C. (Ne 1–2).
Os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias desenvolveram seus ministérios nesse período de grande decadência espiritual, por volta de 432 a 424 a.C., que marcou assim o final do Antigo Testamento.
Algumas características do período persa podem ser destacadas:
1. A decadência espiritual, denunciada por Ageu e Malaquias.
2. O desenvolvimento do poder do sumo sacerdote.
3. Após a época de Neemias, a Judéia foi incluída na província da Síria.
Com isso, o sumo sacerdote se tornou governador da Judéia e autoridade da Síria, havendo fusão dos poderes religiosos e políticos.
4. O início das atividades dos escribas, com um exagerado interesse na letra da Lei. O final do período persa, em 331 a.C., e o início do período grego se caracterizaram por acontecimentos também marcantes.
Um deles foi o surgimento de Alexandre, o grande.
Felipe da Macedônia uniu os estados gregos para combater e expulsar os persas da Ásia Menor.
Mas durante uma festa, em 337 a.C., ele morreu assassinado.
Alexandre, filho de Filipe, que tinha grande capacidade de liderança e foi educado sob o famoso professor Aristóteles, e assumiu o lugar do pai. Ele era devotado a cultura grega (helênica), e tendo como fonte de inspiração a Ilíada de Homero comandou as invasões contra os persas.
No dizer de Tenney (1984, p. 46), “Alexandre tinha a agressividade e o gênio militar de seu pai dourados com uma mais espessa camada de cultura grega.
Tinha sido educado com a Ilíada de Homero, sob a tutela de Aristóteles, de sorte que tinha profunda admiração pelas tradições e pelos ideais helênicos”.
Alexandre também foi um grande conquistador.
Após dominar toda a Grécia subjugou a Pérsia, um império cinquenta vezes maior e com uma população vinte vezes superior, isso foi expendido.
Em 334 a.C. penetrou na Ásia Menor com suas incursões militar. Em pouco tempo, com apenas 22 anos de idade, conquistou Sardes, Mileto, Éfeso e Halicarnaso, estabelecendo em cada centro a cultura e a democracia grega.
No ano 333 a.C. Alexandre, o grande, tornou-se o “bode” mencionado na profecia de Daniel 8.7.
O bode com a grande ponta ao derrotar o persa Dario, na batalha de Issus, não encontrou resistência até chegar ao Egito.
Em 332 a.C. dominou Tiro e região e visitou Jerusalém.
Tomou conhecimento da profecia de Daniel e deixou Jerusalém em paz.
Foi uma das poucas cidades poupadas por ele.
Em 331 a.C. venceu definitivamente o persa Dario III na batalha de Arbela ou Gaugamela, pondo fim ao grande império persa.
Suas conquistas chegaram até o rio Indo.
Mas morreu com apenas 33 anos, em 323 a.C., ao ter suas forças consumidas pelo álcool (vinho) e pela malária.
Com tudo isso, podemos ver que não importa o poder conquistado por alguém.
Se ele não for dado por Deus, tudo se dissipa rapidamente e acaba. Mas outros acontecimentos marcaram esse período, o período grego, que terminou em 323 a.C.:
1. A influência dos gregos foi muito grande por causa da extensão da conquista e da permanência deles nas terras dominadas.
2. Eles estabeleceram centros de comércio e cultura por toda a extensão do império.
Como afirma Tenney, “A helenização do Oriente teve um rápido incremento com as campanhas de Alexandre, o grande” (1984, p. 44).
3. A influência da cultura grega e a superstição oriental deram lugar à liberdade de pensamento, marca distintiva da filosofia grega.
4. Com a influência grega a maneira de pensar de muitos povos foi mudada e o mundo foi sendo preparado para uma religião universal. 5. De grande importância foi a disseminação da língua grega, criando a possibilidade de pregação do evangelho numa língua universal e da leitura das Escrituras por toda a extensão do Mediterrâneo.
O Antigo Testamento seria traduzido para o grego, na versão Septuaginta como conhecemos hoje, e o Novo Testamento, séculos mais tarde, seria também escrito em grego.
Um outro período que merece nossa atenção é o chamado período egípcio, que vai de 323 a 198 a.C.
Com a morte prematura de Alexandre, começou a luta pelo controle do império. Dentre os quatro generais, de Alexandre, Ptolomeu, Seleuco, Lísimaco e Cassandro, os dois primeiros se destacaram na disputa pelo poder.
No dizer de Gundry (2003, p. 4):
O império dos Ptolomeus centralizava-se no Egito, tendo Alexandria por capital.
A dinastia governante naquela fatia do império veio a ser conhecida como os Ptolomeus.
Cleópatra, que morreu no ano 30 a.C., foi o último membro da dinastia dos Ptolomeus.
O império selêucida tinha por centro a Síria, e Antioquia era a sua capital.
Alguns dentre a casa ali reinante receberam o apodo de Seleuco, mas diversos outros foram chamados Antíoco.
Quando Pompeu tornou a Síria uma província romana, em 64 a.C., chegou ao fim o império selêucida.
Os ptolomeus dominaram a Palestina até por volta de 198 a.C., quando os seleucidas anexaram a Terra Santa aos seus domínios.
Nesse ano iniciou-se, então, o período sírio.
Antíoco III, o grande, morreu depois dessa conquista e foi sucedido por seu filho Seleuco Filopater (187–175 a.C.), que foi envenenado, abrindo caminho para a sucessão do seu irmão Antíoco Epifânio IV (175–164 a.C.).
Antíoco Epifânio, que significa “deus manifesto”, deu esse nome a si mesmo e governou muito mal.
Durante o seu domínio aboliu a adoração no Templo.
Entre os judeus havia duas correntes opostas:
Um primeiro grupo, liderado por Onias III, que era extremamente nacionalista, e um segundo, liderado por Jasom, irmão de Onias III, que era favorável aos helenistas, isto é, ao domínio grego.
Jasom ofereceu grande soma de dinheiro a Antíoco para ser apontado como sumo sacerdote, prometendo em troca influenciar Jerusalém com a cultura grega.
Jasom, ao ser apontado como sumo sacerdote, construiu um ginásio logo abaixo do Templo, onde os jovens judeus começaram a participar dos jogos gregos.
Ele também mandou erigir um altar e enviou ofertas a Hércules, no Templo de Tiro, na Síria.
Os nacionalistas, simpatizantes de Onias III, que se opunham a helenização da Judéia, eram chamados de hasidim (puritanos), e deram origem aos fariseus.
Os partidários de Jasom, que eram simpatizantes da cultura helênica, deram origem aos saduceus.
Antíoco Epifânio foi também mencionado na profecia de Daniel e identificado como sendo a “pequena ponta” de Daniel 8.9.
Cego por poder e dinheiro, substituiu Jasom por outro judeu helenizante, chamado Menelau, que lhe oferecera mais dinheiro.
Em certa ocasião, num só dia, massacrou quarenta mil judeus e invadiu o Templo. Em 167 a.C. mandou abolir a adoração naquele lugar. Então em 168 a.C. transformou-o em local de adoração a Zeus, sacrificando um porco em seu altar. Através desses eventos históricos, é possível perceber como a Palavra de Deus é infalível e se cumpre a risca.
Todos esses acontecimentos estavam profetizados desde os tempos de Daniel em seu livro profético.
E todos se concretizaram, demonstrando a confiança que podemos ter na Palavra e na soberania do nosso Deus. Nada aconteceu por acaso.
Tudo isso fazia parte do plano de Deus para preparar o mundo para a primeira vinda de Jesus Cristo.
Assim também Ele está no controle de cada detalhe que acontece conosco, e no mundo hoje, sabendo inclusive quantos são os fios de cabelo de nossas cabeças (Mt 10.30).
Isso é impressionante e nos motiva mais ainda a crermos totalmente em Deus e sua soberania. Numa época em que alguns têm declarado que Deus não é soberano e que Ele se surpreende com o futuro, esses relatos, e a confirmação das profecias, atestam claramente a onisciência do nosso Deus!
Mas temos ainda outros fatos importantes no período intertestamentários.
Todos esses atos praticados por Antioco Epifânio consolidaram a resistência dos judeus e provocaram a revolta dos Macabeus.
Com toda a imposição da filosofia, cultura e práticas religiosas contrárias ao judaísmo, desenvolveu-se um forte espírito nacionalista unindo todos os segmentos dos judeus.
O período Macabeus, que se iniciou em 167 a.C. e durou até 63 a.C., teve como principal acontecimento a revolta dos Macabeus.
Ela começou com Matatias, um sacerdote de Mondin, em 167 a.C., quando um agente do governo ofereceu uma grande recompensa financeira se ele, como o mais velho e mais respeitado habitante da aldeia, fosse o primeiro a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos.
Matatias rejeitou a proposta, mas um judeu com tendências helênicas a aceitou, aproximando-se do altar para sacrificar, foi nessa hora que, Matatias, diante da profanação da Lei de Deus, matou-o judeu diante do altar e, em seguida, matou também o enviado governamental.
Iniciou-se então a revolta contra os sírios.
Nas palavras de Elwell escritor historiador (2002, p. 47), assim aconteceram esses fatos:
Na pequena cidade de Modin, a uns quase trinta quilômetros de Jerusalém, um velho sacerdote de nome Matatias resistiu à tentativa de Antioco de impor a adoração pagã sobre todo Israel, matando o representante do rei (1Mc 2.19–26).
Ele então fugiu com seus cinco filhos:
João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas.
De lá trouxe o auxílio dos hasideanos, um grupo de guerreiros santos, e fizeram guerra contra os sírios.
A liderança foi exercida pelos membros de sua família, chamados asmoneus, pelos próximos 103 anos até que Pompeu conquistou Jerusalém em 63 a.C.
A revolta dos Macabeus foi então comandada por quatro filhos de Matatias. Judas Macabeus (o martelo), Simão e Jônatas, que continuaram a luta, e com apenas três mil homens derrotaram os sírios.
Em 25 de dezembro de 166 a.C., Judas entrou em Jerusalém e reedificou o Templo. A Festa de Dedicação fo
19 Matatias respondeu-lhes:
Ainda mesmo que todas as nações que se acham no reino do rei o escutassem, de modo que todos renegassem a fé de seus pais e aquiescessem às suas ordens,
20 eu, meus filhos e meus irmãos, perseveraremos na Aliança concluída por nossos antepassados.
21 Que Deus nos preserve de abandonar a lei e os mandamentos!
22 Não obedeceremos a essas ordens do rei e não nos desviaremos de nossa religião, nem para a direita, nem para a esquerda.
23 Mal acabara de falar, eis que um judeu se adiantou para sacrificar no altar de Modin, à vista de todos, conforme as ordens do rei.
24 Viu-o Matatias e, no ardor de seu zelo, sentiu estremecerem-se suas entranhas. Num ímpeto de justa cólera arrojou-se e matou o homem no altar.
25 Matou ao mesmo tempo o oficial incumbido da ordem de sacrificar e demoliu o altar.
26 Com semelhante gesto o mostrou seu amor pela lei, como agiu Finéias a respeito de Zamri, filho de Salum.
Ele então fugiu com seus cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas. De lá trouxe o auxílio dos hasideanos, um grupo de guerreiros santos, e fizeram guerra contra os sírios. A liderança foi exercida pelos membros de sua família, chamados asmoneus, pelos próximos 103 anos até que Pompeu conquistou Jerusalém em 63 a.C. A revolta dos Macabeus foi então comandada por quatro filhos de Matatias. Judas Macabeus (o martelo), Simão e Jônatas, que continuaram a luta, e com apenas três mil homens derrotaram os sírios. Em 25 de dezembro de 166 a.C., Judas entrou em Jerusalém e reedificou o Templo.
A Festa de Dedicação foi instituída em 164 a.C. (Jo 10.22).
Depois de Jonatas, Simão foi proclamado sumo sacerdote, reunindo sob si o poder religioso e político, iniciando a dinastia hasmoneana, que durou de 142 a 63 a.C., cheia de traições e mudanças de poder.
O quarto grande período desses 400 anos de silêncio foi o período romano, que teve início em 63 a.C.
Quando o Novo Testamento começou, o novo poder de Roma governava o mundo inteiro.
No ano 63 a.C., Pompeu, o romano, tomou Jerusalém e o povo passou a viver debaixo desse novo domínio.
E, tendo reunido sob si o poder religioso e político, o sacerdócio entrou em nova decadência espiritual, afastando-se da devoção a Jeová.
Assim, quando Jesus nasceu, o governo romano dominava toda a Palestina e especificamente Jerusalém.
Esse domínio se estendeu durante todo o período do Novo Testamento.
No ano 40 a.C., o senado romano apontou Herodes para ser o rei da Judéia.
Ele era idumeu, descendente de Edom, isto é, de Esaú, e não era aceito pelos judeus puros.
Para os judeus nunca houve uma família ou um homem pior do que Herodes.
Segundo alguns comentaristas, podemos comparar a família de Herodes a muitas organizações criminosas de hoje, sendo que em alguns atos até as sobrepujou.
Em 37 a.C. Herodes se apossou de Jerusalém e assassinou os últimos sacerdotes da descendência dos Macabeus.
No ano 31 a.C., quando César Augusto tornou-se imperador de Roma, a cidade de Cesárea foi edificada em sua homenagem.
Entre os anos 20 e 19 a.C., começou e terminou a reconstrução do santuário em 18 meses.
Mas a reconstrução completa do Templo só se deu em 64 d.C., seis anos antes de Jerusalém ser novamente invadida pelo marechal romano Tito.
Jesus nasceu em Belém da Judéia, no ano 5 ou 4 a.C., portanto, quando a Palestina estava sob o domínio romano.
Mas antes de atentarmos para o nascimento de Jesus, precisamos ainda alistar outros fatos importantes que marcaram esses 400 anos de silêncio intertestamentário até a primeira vinda de Jesus, pois o conhecimento e o estudo deles nos ajudarão a entender o contexto daquela época e a aproveitarmos mais o estudo dos livros neotestamentários.
No período intertestamentário houve grande atividade literária.
O Antigo Testamento foi traduzido para o grego no Egito, na cidade de Alexandria, entre 245 e 257 a.C.
Essa tradução foi feita por seis membros de cada uma das doze tribos de Israel e recebeu o nome de Septuaginta.
Ela foi usada pelo Senhor Jesus e pelo apóstolo Paulo.
Os livros apócrifos do Antigo Testamento surgiram nesse período.
Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e Baruque não são considerados divinamente inspirados, mas são bastante úteis para nós fornecer informações históricas sobre esse tempo de silêncio.
Nessa época, ocorreu também uma mudança na língua do povo.
Logo depois do cativeiro iniciou-se a transição do hebraico para o aramaico. Depois do exílio o aramaico, que já era usado (2Rs 18.26), tornou-se a língua oficial.
Mas junto com a conquista do mundo por Alexandre Magno, muitos judeus entenderam que era importante usar a língua grega.
Na época de Jesus a maioria dos judeus era bilíngue, falando tanto o grego quanto o aramaico (At 21.40; 22.2).
Durante o período de silêncio também apareceram as sinagogas.
A sinagoga como instituição surgiu em consequência da suspensão dos serviços no Templo (586 a.C.), tornando-se o local para a adoração e a instrução até a época de Jesus.
Em Jerusalém, por volta do ano 70 d.C., havia aproximadamente 480 sinagogas na cidade. Uma cidade que não tivesse dez judeus casados com mais de 30 anos não podia estabelecer uma sinagoga, mas somente uma “proseucha”, isto é, uma casa ou lugar de oração (At 16.13–15).
Outro fato a ser destacado é o surgimento das seitas judaicas.
Os fariseus eram descendentes dos reformadores dos tempos de Esdras e Neemias. Quando Matatias revoltou-se contra os esforços helenizantes de Antíoco, os “hasidins” ou “hasideanos”, os piedosos, o apoiaram e se ligaram a ele.
Os hasidins eram chamados de “perushin”, os separados.
Assim, os fariseus constituíram-se no núcleo da aristocracia religiosa e acadêmica.
Nessa mesma época, durante o exílio, surgiram também os saduceus.
Esse nome provavelmente vem de Zadoque, sumo sacerdote dos tempos de Davi (2Sm 8.17; 15.24).
Em oposição aos fariseus, que eram nacionalistas, os saduceus eram favoráveis à filosofia e a cultura grega. Sendo um partido político com tendência sacerdotal e aristocrata, tinha pouca influência sobre o povo comum.
Outro grupo que surgiu entre os judeus foi o dos essênios.
Com sede na beira ocidental do Mar Morto, alguns pesquisadores afirmam que eles estavam em muitas vilas e cidades da Palestina. Os essênios não são mencionados nos evangelhos, mas Filo disse que havia quatro mil ou mais nos tempos do Novo Testamento.
Eles seguiam o conceito de comunidade de bens, asceticismo, abstinência e celibato.
No dizer de Unger (2006, p. 365):
“Os essênios formavam mais uma seita monástica que um partido religioso-político como os fariseus e saduceus.
Até a descoberta, em 1947, dos manuscritos do mar Morto, Filo, Josefo e Plínio eram as únicas fontes de informação dessa ordem monástica comunal, com as quais poderíamos nos informar”.
Os manuscritos do Mar Morto são compostos por 930 pergaminhos e papiros, que foram encontrados em 11 cavernas do Qumran, no deserto da Judéia, na Cisjordânia. Eles foram encontrados entre os anos de 1947 e 1956, todos escritos em hebraico e aramaico. Tivemos muito mais informações que por sinal são confiáveis, porque como alguém iria intentar aquilo e esconder?
Também durante o período intertestamentário surgiram os herodianos.
Eles tinham mais o perfil de um partido político do que de uma seita.
E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens.
E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.
Enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem nalguma palavra. Mateus 22:16, Marcos 3:6-21, Marcos 12.13.
Todos esses surgiram do período intertestamentário.
Esperavam que Herodes cumprisse a realização da esperança messiânica da nação. Um outro grupo bem representado entre os judeus foi o dos zelotes ou cananitas.
Simão, o Cananita, (ou o zelote) e Judas Iscariotes, aquele que o traiu, Mateus 10:4, que se tornou um dos apóstolos,
Alguns estudiosos entendem que esse grupo poderia ser considerado uma seita ou um partido político, pois seus integrantes eram legalistas, pietistas, messianistas e nacionalistas.
Eram intolerantes com os romanos e não aceitavam os que aprovavam a subjugação de Israel a Roma.
Os zelotes não eram uma seita religiosa da mesma categoria dos fariseus ou dos essênios.
Constituíam um grupo de nacionalistas fanáticos que advogavam a violência como meio de libertarem-se de Roma.
No tempo do cerco de Jerusalém, sob o reinado de Tito, constituíam uma das facções mais perigosas, dentro da cidade e a dissensão causada por eles contribuiu grandemente para a queda da cidade.
Estavam talvez ligados com os“sicários” mencionados em At 21.38. Simão,
"Os sicários eram um grupo de judeus fanáticos que lutava contra a ocupação romana da Judeia.
Como arma favorita tinham um punhal curto, a sica. Usavam-no em assassinatos pontuais. A aparente aleatoriedade destes ataques espalhava um sentimento de vulnerabilidade entre os romanos.
Os sicários representavam o medo e o terror, pondo em causa a governação de Roma. Era a fórmula perfeita duma subversão armada", (A crónica de Felipe Pathé Duarte).
discipulo de Jesus, pertenceu a eles, como o indica o seu nome (Lc 6.15; At 1.13). (Tenney, 1984, p. 141).
Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote . Zelote,
Ainda outro grupo, que não era seita, foi importante durante aquele período até os dias de Jesus.
Eram os escribas, os mestres da lei ou rabinos. Eles formavam um grupo profissional e não um partido. Eram os encarregados de instruir o povo em matéria de religião. Em geral, não pertenciam à classe sacerdotal, mas eram influentes e chegaram a ter uma elevada consideração como intérpretes da Lei e dirigentes do povo.
Você consegue ver a importância de todos esses detalhes?
Ao lermos os evangelhos e percebermos que Jesus dialogava com fariseus, escribas, saduceus e outros judeus, devemos nos lembrar das características de cada grupo para sabermos por que, e como aconteciam aqueles diálogos, que muitas vezes eram bastante ásperos.
É importante também destacar que nesses 400 anos de silêncio de preparação do mundo para a primeira vinda de Jesus, que vinha livrar os humanos do inferno, cresceu entre o povo judeu um sentimento denominado ;
“Esperança messiânica”.
Na época da restauração, com o desaparecimento dos profetas, foi enfatizada a observância da Lei. Mas no tempo dos Macabeus, com a perseguição intensa promovida pelos conquistadores e especificamente por Antioco Epifânio, que prevaleceu até depois da tomada de Jerusalém em 63 a.C. por Pompeu, ressurgiu a esperança num líder sobre-humano alguém que pudesse dominar.
Na época do nascimento de Cristo, com a morte de Herodes, a esperança messiânica estava viva.
O significado básico dessa esperança é que os judeus esperavam um rei que constituiria um reino eterno e julgaria os maus.
Esperavam a salvação trazida por Jesus Cristo aos judeus, e não aos gentios.
A expectativa era de que o Messias fosse um “santo poderoso” ou um “anjo sobrenatural, ou um espectro” que agiria com extremo poder em favor de Israel.
Ao contrário dessa expectativa, havia uma minoria de judeus que esperava um Messias sofredor.
Eram pessoas espirituais que procuravam a verdade nas Escrituras.
Podemos citar algumas delas, tais como Zacarias, Isabel, Simeão, Ana,
Natanael, Filipe e outros.
Devemos registrar que durante esse período intertestamentário de silêncio houve também a mudança de muitos judeus para Roma.
Pompeu (63 a.C.) foi o primeiro a levá-los cativos.
Sob Júlio César eles se multiplicaram, criando até um bairro na cidade.
Quando Paulo chegou, em 60 d.C., já havia um grande grupo de judeus ali.
É provável que houvesse de 4,5 milhões a 8 milhões de judeus por todo o império, Romano, e estas colônias tornaram-se campos preparados para receberem a pregação do evangelho.
Com tantos detalhes alistados, é necessário destacar mais uma vez o fato de que nenhum deles passava despercebido de Deus. Ao contrário, o nosso soberano Senhor estava preparando o mundo para a vinda de Jesus.
Podemos constatar essa preparação divina através de alguns fatos:
1) Os judeus estavam dispersos por todo o império e tinham interesse pela prática da religião e busca da salvação.
2) Os gregos propagaram sua filosofia, que se aproximava do monoteísmo e destacavam a imortalidade. Sua cultura, que sobrepujava as barreiras culturais e raciais, e sua língua foram usadas para a tradução do Antigo Testamento e a escrita do Novo Testamento.
3) Os romanos unificaram politicamente o mundo com a “Pax romana”, as vantagens concedidas aos cidadãos romanos e as estradas, que facilitaram as viagens para todos os cantos do império.
Assim, diante de todos esses fatos tão marcantes, é possível vermos as ações de Deus preparando o mundo para a primeira vinda de Jesus, como Paulo diz em Gálatas 4.4, 5: Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.
Embora estivesse em silêncio, não se manifestando através dos profetas, Deus estava agindo, como ainda hoje Ele age.
O que necessitamos é ter os nossos olhos abertos para contemplar as soberanas, poderosas e amorosas ações e vontade de Deus.
Fontes: Bíblia Sagrada / COMENTÁRIO BÍBLICO DE MATEUS ATRAVÉS DA BÍBLIA LIVRO POR LIVRO: PASTOR ITAMIR NEVES /(Tenney, 1984, p. 141) (A crónica de Felipe Pathé Duarte). (Manuscritos do mar Morto),