. Filho do homem (humanidade)
(a) Quem? De acordo com o hebraico a expressão "filho de" denota relação e participação. Por exemplo: "Os filhos do reino" (Mat. 8:12) são aqueles que hão de participar de suas verdadeiras bênçãos.
"Os filhos da ressurreição" (Luc. 20:36) são aqueles que participam da vida ressuscitada.
Um "filho de paz" (Luc. 10:6) é um que possui caráter pacifico.
Um "filho da perdição" (João 17:12) é um destinado a sofrer a ruína e a condenação.
Portanto, "filho do homem" significa, principalmente, um que participa da natureza humana e das qualidades humanas.
Dessa maneira, "filho do homem" vem a ser uma designação enfática para o homem em seus atributos característicos de debilidade e impotência. (Num. 23:19; Jo 16:21; 25:6.)
Neste sentido o título é aplicado oitenta vezes a Ezequiel, como uma recordação de sua debilidade e mortalidade, e como um incentivo à humanidade no cumprimento da sua vocação profética.
Aplicado a Cristo, "Filho do homem" designa-o como participante da natureza e das qualidades humanas, e como sujeito às fraquezas humanas.
No entanto, ao mesmo tempo, esse título implica sua deidade, porque, se uma pessoa enfaticamente declarasse: "Sou filho de homem", a ele dirse-ia: "Todos sabem disso." Porém, a expressão nos lábios de Jesus significa uma Pessoa celestial que se havia identificado definitivamente com a humanidade como seu representante e Salvador.
Notemos também que é:
o e não um Filho do homem.
O título está relacionado com a sua vida terrena exclusiva(Mar.2:10; 2:28; Mat. 8:20; Luc. 19:10), com seus sofrimentos a favor da humanidade (Mar. 8:31), e com sua exaltação e domínio sobre a humanidade (Mat. 25:31; 26:24. Vide Dan. 7:14).
Ao referir-se a si mesmo como "Filho do homem", Jesus desejava expressar a seguinte mensagem:
"Eu, o Filho de Deus, sou Homem, em debilidade, em sofrimento, mesmo até à morte.
Todavia, ainda estou em contato com o Céu de onde vim, e mantenho uma relação com Deus que posso perdoar pecados (Mat. 9:6), e sou superioraos regulamentos religiosos que somente tem significado temporal e nacional. (Mat. 12:8.).
Esta natureza humana não cessará quandoeu tiver passado por estes últimos períodos de sofrimento e morte que devo suportar para a salvação do homem e para consumar a minha obra.
Porque subirei e a levarei comigo ao céu, de onde voltarei para reinar sobre aqueles cuja natureza "tornei sobre mim".
A humanidade do Filho de Deus era real e não fictícia Ele nos é descrito como realmente padecendo fome, sede, cansaço, dor, e como estando sujeito em geral às debilidades da natureza, porém sem pecado.
(b) Como?
Por qual ato, ou meio, o Filho de Deus veio a ser Filho do homem?
Que milagre pôde trazer ao mundo "o segundo homem" que é o "Senhor do céu"? (1 Cor. 15:47.) A resposta é que o Filho de Deus veio ao mundo como Filho do homem sendo concebido no ventre de Maria pelo Espírito Santo, e não por um
pai humano. E a qualidade da vida inteira de Jesus está em conformidade com a maneira do seu nascimento.
Ele que veio através de um nascimento virginal, viveu uma vida virginal (inteiramente sem pecado) sendo essa última característica um milagre tão grande como o primeiro.
Ele que nasceu milagrosamente, viveu milagrosamente, ressuscitou dentre os mortos milagrosamente e deixou o mundo milagrosamente.
Sobre o ato do nascimento virginal está baseada a doutrina da encarnação. (João 1:14.) .
A seguinte declaração dessa doutrina é da pena do erudito Martin Scott: Como todos os cristãos sabem, a encarnação significa que Deus (isto é, o Filho de Deus) se fez homem.
Isso não quer dizer que Deus se tomou homem, nem que Deus cessou de ser Deus e começou a ser homem; mas que, permanecendo como Deus, ele assumiu ou tomou uma natureza nova, a saber, a humana, unindo esta à natureza divina no ser ou na pessoa Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Na festa das bodas de Caná, a água tornou-se em vinho pela vontade de Jesus Cristo, o Senhor da Criação (João 2:1-11). Não aconteceu assim quando Deus se fez homem, pois em Caná a água deixou de ser água, quando se tornou em vinho, mas Deus continuou sendo Deus, quando se fez homem. Um exemplo que nos poderá ajudar a compreender em que sentido Deus se fez homem, mas ainda não ilustra de maneira perfeita a questão, é aquele de um rei que por
sua própria vontade se fizera mendigo.
Se um rei poderosodeixasse seu trono e o luxo da corte, e vestisse os trapos de um mendigo, vivesse com mendigos, compartilhasse seus sofrimentos,etc., e isto, para poder melhorar-lhes as condições de vida,diríamos que o rei se fez mendigo, porém ele continuaria se‹ido verdadeiramente rei. Seria correto dizer que o que o mendigo sofreu era o sofrimento de um rei; que, quando o mendigo expiava uma culpa, era o rei que expiava, etc. Visto que Jesus Cristo é Deus e homem, é evidente que Deus, de alguma maneira é homem também. Agora, como é que Deus é homem? Está claro que ele nem sempre foi homem, porque o homem não é eterno, mas Deus o é.
Em um certo tempo definido, portanto, Deus se fez homem tomando a natureza humana. Que queremos dizer com a expressão "tomar a natureza humana"?
Queremos dizer que o Filho de Deus, permanecendo Deus, tomou outra natureza, a saber, a do homem, e a uniu de tal maneira com a sua, que constituiu uma Pessoa, Jesus Cristo.
A encarnação, portanto,significa que o Filho de Deus, verdadeiro Deus desde toda a eternidade, no curso do tempo se fez verdadeiro homem também, em uma Pessoa, Jesus Cristo, constituída de duas naturezas, a humana e a divina. Isso, naturalmente é um mistério. não podemos compreendê-lo, assim como tampouco podemos conceber a própria Trindade. Há mistérios em toda parte. Não podemos compreender como a erva e a água, que alimentam o gado, se transformam em carne e sangue. Uma análise química do leite não demonstra conter ele nenhum ingrediente de sangue, entretanto, o leite materno se torna em sangue e carne da criança.
Nem a própria mãe sabe como no seu corpo se produz o leite que dá a seu filho.
Nenhum dentre os sábios do mundo pode explicar a conexão existente entre o pensamento e a expressão desse pensamento, ou seja, as palavras. Não devemos, pois, estranhar se não podemos compreender a encarnação de Cristo. Cremos nela
porque aquele que a revelou, é o próprio Deus, que não pode enganar nem ser enganado.
(c) Por que o Filho de Deus se fez Filho do homem, ou quais foram os propósitos da encarnação?
1) Como já observamos, o Filho de Deus veio ao mundo para ser o Revelador de Deus. Ele afirmou que as suas obras e suas palavras eram guiadas por Deus (João 5:19, 20; 10:38); sua própria obra evangelizadora foi uma revelação do coração doPai celestial, e aqueles que criticaram sua obra entre os pecadores demonstraram assim sua falta de harmonia com o espírito do céu.(Luc. 15:1-7.)
2) Ele tomou sobre si nossa natureza humana para glorifica la e desta maneira adaptá-la a um destino celestial. Por
conseguinte, formou um modelo, por assim dizer, pelo qual a natureza humana poderia ser feita à semelhança divina. Ele, o Filho de Deus, se fez Filho do homem, para que os filhos dos homens pudessem ser feitos filhos de Deus (João 1:2), e um dia
serem semelhantes a ele (1 João 3:2); até os corpos dos homens serão "conforme o seu corpo glorioso" (Fil. 3:21).
"O primeiro homem (Adão), da terra, é terreno:
o segundo homem, o Senhor é do céu" (1Cor. 15:47); e assim, "como trouxemos a imagem do terreno (vide Gên. 5:3), assim traremos também a imagem do celestial" (verso 49), porque "o último Adão foi feito em espírito vivificante" (verso 45).
3) Porém, o obstáculo a impedir a perfeição da humanidade era o pecado o qual, ao princípio, privou Adão da glória da justiça original.
Para resgatar-nos da culpa do pecado e de seu poder, o Filho de Deus morreu como sacrifício expiatório.
5. Cristo (título oficial e missão)
(a) A profecia. "Cristo" é a forma grega da palavra hebraica "Messias", que literalmente significa, "o ungido". A palavra é sugerida pelo costume de ungir com óleo como símbolo da consagração divina para servir. Apesar de os sacerdotes, e às
vezes os "Ungido" era particularmente aplicado aos reis de Israel que reinavam como representantes de Jeová . (2 Sam. 1:14.) Em
alguns casos o símbolo da unção era seguido pela realidade espiritual, de maneira que a pessoa vinha a ser, em sentido vital, o ungido do Senhor, (1 Sam. 10:1, 6; 16:13.) Saul foi um fracassado, porém Davi, que o sucedeu, foi "um homem segundo o coração de Deus", um rei que considerava suprema em sua vida a vontade de Deus e que se considerava como representante de Deus.
Porém, a grande maioria dos reis se apartou do ideal divino e conduziu o povo à idolatria; e até alguns dos reis mais piedosos não estavam sem culpa nesse particular.
Sob esse fundo negro, os profetas expuseram a promessa da vinda de um rei da casa de Davi, um rei ainda maior do que Davi. Sobre ele descansaria o Espírito do Senhor com um poder nunca visto (Isa. 11:1-3; 61:1). Apesar de
Filho de Davi, também seria ele o Filho de Jeová , recebendo nomes divinos (Isa. 9:6, 7; Jer. 23:6).
Diferente do de Davi, seu reino seria eterno, e sob seu domínio estariam todas as nações.
Esse era o Ungido, ou o Messias, ou o Cristo, e sobre ele concentravam-se as esperanças de Israel.
(b) O Cumprimento. O testemunho constante do Novo
Testamento é que Jesus se declarou o Messias, ou Cristo, prometido no Antigo Testamento. Assim como o presidente deste pais é primeiramente eleito e depois publicamente toma posse do
governo, da mesma maneira, Jesus Cristo foi eternamente eleito para ser o Messias e Cristo, e depois empossado publicamente em seu oficio messiânico no rio Jordão. Assim como Samuel ungiu primeiro a Saul e depois explicou o significado da unção (1Sam. 10:1), da mesma maneira Deus, o Pai, ungiu a seu Filho com o Espírito de poder e sussurrou no seu ouvido o significado da sua unção: "Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo" (Mar.1:11). Em outras palavras:
"Tu és o Filho de Jeová , cuja vinda foi predita pelos profetas, e agora te doto de autoridade e poder para a tua missão, e te envio com minha bênção." As pessoas entre as quais Jesus teria de ministrar esperavam a vinda do Messias, mas
infelizmente suas esperanças eram coloridas por uma aspiração política.
Esperavam um "homem forte", que fosse uma combinação de soldado e estadista. Seria Jesus esse tipo de Messias? O Espírito o conduziu ao deserto para debater a questão com Satanás, que astuciosamente lhe sugeriu que adotasse um
programa popular e dessa maneira tomasse o caminho mais fácil e curto para o poder.
"Concede-lhes seus anelos materiais", sugeriu o Tentador (vide Mat. 4:3, 4 e João 6:14, 15, 26), "deslumbra-os saltando do pináculo do templo (e logicamente ficarás em boas
relações com o sacerdócio), faze-te o campeão do povo e conduzeos à guerra." (Vide Mat. 4:8, 9 e Apoc. 13:2, 4.) Jesus sabia que
Satanás estava advogando a política popular, a qual era inspirada por seu próprio espírito egoísta e violento. Que esse curso de ação conduziria ao derramamento de sangue e à violência, não havia dúvida.
Não! Jesus seguiria a direção do seu Pai e confiaria somente nas armas espirituais para conquistar os corações dos homens, ainda que a senda conduzisse à falta de compreensão, ao sofrimento, e à morte! Jesus escolheu a cruz. e escolheu-a porque
era parte do programa de Deus para sua vida. Ele nunca se desviou dessa escolha, apesar de ser muitas vezes tentado a babandonar o caminho da cruz. (Vide, por exemplo, Mat. 16:22.)
Escrupulosamente Jesus conservou-se fora de embaraços na situação política contemporânea. Às vezes proibia aos que ele curava de espalharem sua fama, para que seu ministério não fosse mal interpretado como sendo uma agitação popular contra Roma.
(Mat. 12:15, 16; Vide Luc. 23:5.) Nessa ocasião seu êxito tornou-se uma acusação contra ele. Recusou-se deliberadamente aencabeçar um movimento popular (João 6:15). Proibia a proclamação pública de seu caráter messiânico, como também o
testemunho de sua transfiguração para que não suscitassem esperanças falsas entre o povo. (Mat. 16:20; 17:9.) Com sabedoria infinita, escapou a uma hábil armadilha que o desacreditaria entre
o povo como "traidor da nação", ou, por outro lado, que o envolveria em dificuldades com o governo romano. (Mat. 22:15-21.)
Em tudo isso o Senhor Jesus cumpriu a profecia de Isaias que o Ungido de Deus seria proclamador da verdade divina, e não um violento agitador, nem um que buscasse seu próprio bem, nem que excitasse a população (Mat. 12:16-21), como o faziam alguns dos falsos messias que o precederam e outros que posteriormente surgiram. (João 10:8; Atos 5:36; 21:38.)
Ele evitou fielmente os métodos carnais e seguiu os espirituais, de maneira que Pilatos, representante de Roma, pôde testificar: " não acho culpa alguma neste homem." Observamos que Jesus começou seu ministério entre um povo que tinha a verdadeira esperança de um Messias, tendo porém um conceito errôneo de sua Pessoa e obra.
Sabendo disso, Jesus não se proclamou no princípio como Messias (Mat. 16:20) porque sabia que isso seria um sinal de rebelião contra Roma. Ele, de preferência, falava do Reino, descrevendo seus ideais e sua natureza espiritual, esperando inspirar no povo uma fome por esse reino espiritual, que por sua vez os conduziria a desejar um Messias espiritual. E seus esforços neste sentido não moram inteiramente infrutíferos, pois João, o apóstolo, nos diz que desde o princípio houve um grupo espiritual que o reconhecia como Cristo. Também, de tampos em tempos ele se revelava a indivíduos que estavam preparados espiritualmente. João 4:25, 26; 9:35-37.) Porém, a nação em geral não entendia a
conexão entre o seu ministério espiritual e o pensamento do Messias. Admitiam livremente que ele fosse um Mestre capaz, um
grande pregador, e ainda um profeta (Mat. 16:13, 14); mas