A natureza da alma.
A alma é aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo humano, usando os sentidos
físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os órgãos do corpo para se expressar e comunicar-se com o mundo exterior.
Originalmente a alma veio a existir em resultado do sopro sobrenatural de Deus. Podemos descrevê-la como espiritual e vivente, porque opera por meio do corpo. No entanto, não
devemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca. É mais correto dizer que é dom e obra de Deus. (Zac. 12:1.)
Devem-se notar quatro distinções:
1. A alma distingue a vida humana e a vida dos irracionais das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como a vegetal. Tanto os homens como os irracionais possuem almas (em
Gên. 1:20, a palavra "vida" é "alma" no original). Poderíamos dizer que as plantas têm alma (no sentido de um princípio de vida), mas
não é uma alma consciente.
2. A alma do homem o distingue dos irracionais.
Estes possuem alma, mas é alma terrena que vive somente enquanto durar o corpo. (Ecl. 3:21.) A alma do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito humano. Como"toda carne não é a mesma carne", assim sucede com a alma; existe alma humana e existe alma dos irracionais. Evidentemente,
os homens fazem o que os irracionais não podem fazer, por muito inteligentes que sejam; a sua inteligência é de instinto e não proveniente de razão. Tanto os homens como os irracionais
constróem casas. Mas o homem progrediu, vindo a construir catedrais, escolas e arranha-céus, enquanto os animais inferiores constroem suas casas hoje da mesma maneira como as construíam quando Deus os criou.
Os irracionais podem guinchar (como o macaco), cantar (como o pássaro), falar (como o papagaio); mas somente o homem produz a arte, a literatura, a música e as invenções cientificas. O instinto dos animais pode manifestar a sabedoria do seu Criador, mas somente o homem pode conhecer e adorar a seu Criador. Para melhor ainda ilustrar o lugar elevado que ocupa o homem na escala da vida,
vamos observar os quatro degraus da vida, que se elevam em dignidade um sobre o outro, conforme a independência sobre a matéria. Primeiro, a vida vegetal, que necessita de órgãos materiais para assimilar o alimento; segundo, a vida sensível, que usa os órgãos para perceber as coisas materiais e ter contato com elas;
terceiro, a vida intelectual, que percebe o significado das coisas pela lógica, e não meramente pelos sentidos; quarto, a vida moral,que concerne à lei e à conduta. Os animais são dotados de vida vegetativa e sensível; o homem é dotado de vida vegetativa,sensível, intelectual e moral.
3. A alma distingue um homem de outro e dessa maneira forma a base da individualidade.
A palavra "alma" é, portanto,usada freqüentemente no sentido de "pessoa". Em Êxo. 1:5"setenta almas" significa "setenta pessoas". Em Rom.13:1 "cada alma" significa "cada pessoa". Atualmente dizemos, " não havia nem uma alma presente", referindo-nos às pessoas.
4. A alma distingue o homem não somente das ordens
inferiores, mas também das ordens superiores dos anjos, porque estes não têm corpos semelhantes aos dos homens. O homem tomou-se um "ser vivente", quer dizer, a alma enche um corpo
terreno sujeito às condições terrenas. Os anjos se descrevem como espíritos (Heb. 1:14), porque não estão sujeitos às condições ou limitações materiais. Por essa mesma razão se descreve Deus como
"Espírito". Mas os anjos são espíritos criados e finitos, enquanto Deus é o Espírito eterno e infinito.
(b) A origem da alma.
Sabemos que a primeira alma veio a existir como resultado de Deus ter soprado no homem o sopro de
vida. Mas como chegaram a existir as almas desde esse tempo? Os estudantes da Bíblia se dividem em dois grupos de idéias
diferentes:
(1) Um grupo afirma que cada alma individual não vem proveniente dos pais, mas sim pela criação Divina imediata. Citam as seguintes escrituras: Isa. 57:16; Ecl. 12:7; Heb. 12:9; Zac. 12:1
(2) Outros pensam que a alma é transmitida pelos pais. Apontam o fato de que a transmissão da natureza pecaminosa de Adão à posteridade milita contra a criação divina de cada alma; também o
fato de que as características dos pais se transmitem à descendência. Citam as seguintes passagens: João 1:13; 3:6; Rom.5:12; 1 Cor.15:22; Efés. 2:3; Heb. 7:10.
A origem da alma pode explicar-se pela cooperação tanto do Criador como dos pais. No princípio duma nova vida, a Divina criação e o uso criativo de meios agem em cooperação. O homem gera o homem em cooperação com "o Pai dos espíritos". O poder de Deus domina e permeia o mundo (Atos 17:28; Heb. 1:3) de maneira que todas as criaturas venham a ter existência segundo as leis que ele ordenou.
Portanto, os processos normais da reprodução humana põem em execução as leis da vida fazendo com que a alma nasça no mundo. A origem de todas as formas de vida está encoberta por um
véu de mistérios (Ecl. 11:5; Sal. 139:13-16; Jo 10:8-12), e esse fato deve servir de aviso contra a especulação sobre as coisas que estão além dos limites das declarações bíblicas.
(c) Alma e corpo.
A relação da alma com o corpo pode ser descrita e ilustrada da seguinte maneira:
1. A alma é a depositária da vida; ela figura em tudo que pertence ao sustento, ao risco, e à perda da vida. É por isso que em muitos casos a palavra "alma" tem sido traduzida "vida". (Vide
Gên. 9:5; 1 Reis 19:3; 2:23; Prov. 7:23; Êxo. 21:23,30; 30:12;Atos 15:26.) A vida é o entrosamento do corpo com a alma.
Quando a alma e o corpo se separam, o corpo não existe mais; o que resta é apenas um grupo de partículas materiais num estado de rápida decomposição.
2. A alma permeia e habita todas as partes do corpo e afeta mais ou menos diretamente todos os seus membros. Este fato explica por que as Escrituras atribuem sentimentos ao coração e aos rins (Sal. 73:21; Jo 16:13; Lam. 3:13; Prov. 23:16; Sal. 16:7; Jer. 12:2; Jo. 38:36); às entranhas (File. 12; Jer. 4:19; Lam. 1:20;2:11; Cânt. dos Cânt. 5:4; Isa. 16:11); e ao ventre (Hab. 3:16; Jo 20:23; 15:35; João 7:38). Esta mesma verdade, de que a alma permeia o corpo, explica porque em muitas passagens se descreve a alma executando atos corporais. (Prov. 13:4; Isa. 32:6; Num. 21:4; Jer. 16:16; Gên.44:30; Ezeq. 23:17, 22, 28.) "As partes internas" ou "entranhas" é a expressão que geralmente descreve o
entrosamento da alma com o corpo. (Isa. 16:11; Sal. 51:6; Zac.12:1; Isa. 26:9; 1 Reis 3:28.) Essas passagens descrevem as partes internas como o centro dos sentimentos, de experiência espiritual e
de sabedoria. Mas notemos que não é o tecido material que pensa e sente, e, sim a alma operando por meio dos tecidos.
Corretamente falando, não é o coração de carne, mas a alma, por meio do coração, que sente.
3. Por meio do corpo a alma recebe suas impressões do mundo exterior. Essas impressões são percebidas por estes sentidos: vista, audição, paladar, olfato e tato, e são transmitidas
ao cérebro por via do sistema nervoso. Por meio do cérebro a alma elabora essas impressões pelos processos do intelecto, da razão, da memória e da imaginação.
A alma atua sobre essas
impressões enviando ordens às várias partes do corpo por via do cérebro e do sistema nervoso.
4. A alma estabelece contato com o mundo por meio do corpo, que é o instrumento da alma. O sentir, o pensar, o exercer vontade e outros atos, são todos eles atividades da alma ou do "eu". É
o "eu" que vê e não somente os olhos; é o "eu" que pensa e não meramente o intelecto; é o "eu" que joga a bola e não meramente o meu braço; é o "eu" que pede e não simplesmente a
língua ou os membros. Quando um membro é ferido, a alma não pode funcionar bem por meio dele; em caso de lesão cerebral pode resultar a demência. A alma então passa a ser como um músico
com um instrumento danificado ou quebrado.
(d) A alma e o pecado.
A alma vive a sua vida natural através dos instintos, termo que vamos empregar por falta de outro
melhor. Esses instintos são forças motrizes da personalidade, com as quais o Criador dotou o homem para fazê-lo apto a uma existência terrena (assim como o dotou de faculdades espirituais
para capacitá-lo a uma existência celestial). Chamamo-los instintos porque são impulsos inatos, implantados na criatura a fim de capacitá-la a fazer instintivamente o que é necessário para
originar e preservar a vida natural.
Assim escreve o Dr. Leander Keyser:
"Se no inicio de sua vida o infante humano não tivesse
certos instintos, não poderia sobreviver, mesmo com o melhor cuidado paterno e médico.
" Vamos considerar os cinco instintos mais importantes.
O primeiro é o instinto da auto-preservação que
nos avisa de perigo e nos capacita a cuidar de nós mesmos.
O segundo, é o instinto de aquisição (conseguir), que nos conduz a adquirir as provisões para o sustento próprio. O terceiro, é o
instinto da busca de alimento, o impulso que leva a satisfazer a fome natural.
O quarto é o instinto da reprodução que conduz à perpetuação da espécie.
O quinto, é o instinto de domínio que conduz a exercer certa iniciativa própria necessária para o
desempenho da vocação e das responsabilidades.
O registro desses dotes (ou instintos) do homem concedidos pelo Criador acha-se nos primeiros dois capítulos de Gênesis.
O instinto de autopreservação implica a proibição e o aviso: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás porque no dia em que dela comeres certamente morrerás." O instinto
de aquisição aparece no fato de ter Adão recebido da mão de Deus o lindo jardim do Éden. O instinto da busca de alimento percebe-se nas palavras:
"Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão sementes, as quais se acham sobre a face de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente ser-vos-á para alimento." Ao instinto de reprodução referem-se estas declarações:
"Homem e mulher os criou." "Deus os abençoou e lhes disse: frutificai, multiplicai-vos." Ao quinto instinto, domínio, refere-se o mandamento: "Enchei a terra, e sujeitai-a; dominai."Deus ordenou que as criaturas inferiores fossem governadas primeiramente pelos instintos, mas o homem foi elevado à
dignidade de possuir o dom de livre arbítrio e a razão, com os quais poderia disciplinar-se a si mesmo e tornar-se árbitro do seu próprio destino. Como guia para o regulamento das faculdades do homem, Deus impôs uma lei. O entendimento do homem quanto a essa lei produziu uma consciência, que significa literalmente "com conhecimento". Quando o homem deu ouvidos à lei, teve a consciência esclarecida; quando desobedeceu a Deus, sofreu, pois a consciência o acusava. No relato da tentação (Gên. 3) lemos como o homem cedeu à concupiscência dos olhos, à cobiça da carne, e à vaidade da vida. (1 João 2:16), e usou os seus poderes de modo contrário à vontade de Deus.
A alma consciente e voluntariamente, usou o corpo para pecar contra Deus.
Essa combinação de alma pecaminosa e corpo humano constituem o que se conhece como "o corpo do pecado" (Rom. 6:6), ou "a carne"(Gál. 5:24). A inclinação e desejo da alma para usar o corpo dessa maneira se descreve como a "mente carnal" (Rom. 8:7).
Visto que o homem pecou com o corpo, será julgado segundo"o que fez por meio do corpo" (2 Cor. 5:10). Isso envolve uma ressurreição. (João 5:28, 29.) Quando a "carne" é condenada, a referência não é ao corpo material (o elemento material não pode pecar), mas ao corpo usado pela alma pecadora.
É a alma que peca.
Ainda que a língua do difamador fosse cortada o difamador seria o mesmo. Amputam-se as mãos do larápio, mas de coração ele ainda seria ladrão. Os impulsos pecaminosos da alma devem ser extirpados; é essa a obra do Espírito Santo. (Vide Col. 3:5; Rom. 8:13.)
"A carne" pode ser definida como a soma total dos instintos do homem, não como vieram das mãos do Criador, e, sim, como são na realidade, pervertidos e feitos anormais pelo pecado. é a natureza humana na sua condição decaída,
enfraquecida e desorganizada pela herança racial derivada de Adão e debilitada e pervertida por atos voluntários pecaminosos. Ela representa a natureza humana não regenerada cujas fraquezas freqüentemente se escusam com estas palavras: "Afinal de contas a natureza humana é assim mesmo." é a aberração desses instintos e faculdades dados por Deus que forma a base do pecado.
Por exemplo, o egoísmo, a irritabilidade, a inveja, e a ira são aberrações do instinto da autopreservação. O roubo e a cobiça são perversões do instinto de aquisição. "não furtarás" e " não
cobiçarás" querem dizer: "não perverterás o instinto de aquisição.
A glutonaria é a perversão do instinto de alimentação, portanto, é pecado.
A impureza é perversão do instinto de reprodução. A tirania, a arrogância, a injustiça e a implicância representam abusos do instinto de domínio. Assim vemos que o pecado, fundamentalmente, é o abuso ou a aberração das forças com que Deus nos dotou. Notemos quais as conseqüências dessa perversão:
(1) a consciência culpada que diz ao homem que desonrou a seu Criador, e avisa-o da pena terrível;
(2) a perversão dos instintos reage sobre a alma, debilitando a vontade, incitando e fortalecendo
hábitos maus, e criando deformações do caráter.
Paulo fez um catálogo dos sintomas desses "defeitos" da alma (uma palavra hebraica traduzida "pecado" significa literalmente "tortuosidade"Em Gál. 5:19-21). "Ora as obras da carne são manifestas, as quais são: a fornicação, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e outras coisas semelhantes." Paulo considerou tais coisas tão sérias que acrescenta as palavras, "os que tais coisas praticam,
não herdarão o reino de Deus". Colocada sob o poder do pecado, a alma toma-se "morta em delitos e pecados" (Efés. 2:1). Colocada entre o corpo e o espírito, entre o mais elevado e o inferior, entre o terreno e o espiritual, a alma fez uma escolha má. Mas da escolha não surgiu proveito, e, sim, perda eterna (Mat. 16:26).
Foi feita a má "barganha" de Esaú — a troca da bênção espiritual por uma coisa terrena e perecível. (Heb.12:16.) Ao morrer, a alma ter que passar para o outro mundo, "manchada pela carne". (Jud. 23.)
Felizmente existe um remédio — a cura dupla, tanto para a culpa como para o poder do pecado, (1) Porque o pecado é uma ofensa a Deus, é exigida uma expiação para remover a culpa e purificar a
consciência.
A provisão do Evangelho é o sangue de Jesus Cristo.
(2) Visto que o pecado traz doença à alma e desordem no ser humano, requere-se um poder curativo e corretivo. Esse poder é justamente aquele provido pela operação interna do Espírito Santo
que endireita as coisas tortas da nossa natureza e põe em movimento certo as forças da nossa vida. Os resultados (os frutos) são "amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança" (Gál. 5:22, 23).
Em outras palavras, O Espírito Santo faz-nos justos, palavra que no hebraico significa "reto". O pecado é tortuosidade da alma; a justiça é sua retidão.
(e) A alma e o coração.
Tanto nas Escrituras, como na linguagem comum, a palavra "coração" significa o centro mesmo
duma coisa. (Deut. 4:11; Mat. 12:40 Êxo. 15:8; Sal. 46:2; Ezeq. 27:4,25,26,27.) O "coração" do homem é, portanto, o verdadeiro centro da sua personalidade.
É o centro da vida física.
Nas palavras do Dr. Beck:
"O coração é a primeira coisa a viver, e seu
primeiro movimento é sinal seguro de vida; seu silêncio é sinal positivo de morte." é também a fonte e o lugar onde se encontram as correntes da vida espiritual e da alma. Podemos descrevê-lo
como a parte mais profunda do nosso ser, a "casa das máquinas", por assim dizer, da personalidade, donde procedem os impulsos que determinam o caráter e a conduta do homem.
1. O coração é centro da vida, do desejo, da vontade e do juízo.
O amor, o ódio, a determinação, a vontade e o gozo (Sal.105:3) unem-se com o coração. O coração sabe, compreende (1Reis 3:9), delibera, calcula; está disposto, é dirigido, presta atenção, e inclina-se para as coisas. Tudo o que impressiona a alma se diz estar fixado, estabelecido, ou escrito no coração. O coração é o depósito de tudo quanto se ouve ou se experimenta(Lu. 2:51). O coração é a "fábrica", por assim dizer, em que se formam pensamentos e propósitos, sejam bons ou maus. (Vide
Sal.14:1; Mat. 9:4; l Cor. 7:37; 1Reis 8:17.)
2. O coração é o centro da vida emocional. Ao coração
atribuem-se todos os graus de gozo, desde o prazer, (Isa. 65:14) até
ao êxtase e exultação (Atos 2:46); todos os graus de dor, desde o
descontentamento (Prov. 25:20) e a tristeza (Joao14:1) até ao "ai"
lacerante e esmagador (Sal. 109:22; Atos 21:13); todos os graus de
má vontade desde a provocação e ira (Prov. 23:17) até à cólera
incontrolável (Atos 7:54) e o desejo vingativo ardente (Deut. 19:6);
todos os graus de temor desde o tremor reverente (Jer. 32:40) até
ao pavor (Deut. 28:28). O coração derrete-se e se retorce em
angústia (Jos. 5:1); torna-se fraco pela depressão (Lev. 26:36);
murcha sob o peso da tristeza (Sal. 102:4); quebra-se e fica
esmagado pela adversidade (Sal. 147:3), é consumido por um ardor
sagrado (Jer.20:9).
3. O coração é o centro da vida moral. Concentrado no
coração pode haver o amor de Deus (Sal. 73:26) ou o orgulho
blasfemo (Ezeq. 28:2, 5). O coração é a"oficina" de tudo quanto é
bom ou mau nos pensamentos, nas palavras ou nas ações. (Mat.
15:19.) É onde se reúnem todos os impulsos bons ou as
cobiças más; é a sede dum tesouro bom ou ruim. Do que tiver em
abundância ele fala e opera.(Mat. 12:34, 35.) É o lugar onde
originalmente foi escrita a lei de Deus (Rom.2:15), e onde a mesma
lei é renovada pela operação do Espírito Santo. (Heb.8:10.) É sede
da consciência (Heb. 10:22) e a ele atribuem-se todos os
testemunhos da consciência, (1 João 3:19-21.) Com o coração o
homem crê (Rom. 10:10) ou descrê (Heb. 3:12). É campo onde se
semeia a Palavra divina (Mat. 13:19).Segundo as suas decisões,
está sob a inspiração de Deus (2 Cor. 8:16) ou de Satanás (João
13:2). É a morada de Cristo (Efés. 3:17) e do Espírito (2 Cor. 1:22);
da paz de Deus (Col. 3:15). é o receptáculo do amor de Deus (Rom.
5:5), o lugar da aurora celestial (2 Cor. 4:6), a câmara da
comunhão secreta com Deus (Efés.5:19). É uma grande
profundidade misteriosa que somente Deus pode sondar. (Jer.
17:9.) Foi em vista das imensas possibilidades implícitas no
coração do homem que Salomão proferiu esta admoestação:
"Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem
as fontes da vida" (Prov. 4:23).
(f) A alma e o sangue. "Porque a vida (literalmente "alma") da
carne está no sangue" (Lev. 17:11). As Escrituras ensinam que,
tanto no homem como no irracional, o sangue é a fonte e o
depositário da vida física. (Lev. 17:11; 3:17; Deut. 12:23; Lam.
2:12; Gên. 4:10; Heb. 12:24; Jo 24:12; Apoc. 6:9,10; Jer. 2:34;
Prov. 28:17.) Vamos citar as palavras de Harvey, médico inglês,
descobridor da circulação do sangue: "é o primeiro órgão a viver e o
último a morrer; é a sede principal da alma. Ele vive e nutre-se de
si mesmo, e por nenhuma outra parte do corpo." Em Atos 17:26 e
João 1:13 o sangue se apresenta como a matéria original de onde
surge o organismo humano. Usando o coração como bomba, e
o sangue como meio da vida, a alma envia vitalidade e nutrição
a todas as partes do corpo.O lugar que a criatura ocupa na escala
da vida determina o valor do seu respectivo sangue. Primeiro vem
o sangue dos animais; porém de valor maior é o sangue do
homem, porque o homem tem a imagem de Deus. (Gên. 9:6). De
estima especial é o sangue dos inocentes e dos mártires. (Gên.
4:10; Mat. 23:35.) O mais precioso de todos é o sangue de Cristo (1
Pedro 1:19; Heb. 9:12), de valor infinito por estar unido com
a Divindade. Pelo plano benigno de Deus, o sangue tomou-se o
meio de expiação, quando aspergido sobre o altar de Deus. "Pelo
que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas
vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma"
(Lev. 17:11).
A alma é aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo humano, usando os sentidos
físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os órgãos do corpo para se expressar e comunicar-se com o mundo exterior.
Originalmente a alma veio a existir em resultado do sopro sobrenatural de Deus. Podemos descrevê-la como espiritual e vivente, porque opera por meio do corpo. No entanto, não
devemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca. É mais correto dizer que é dom e obra de Deus. (Zac. 12:1.)
Devem-se notar quatro distinções:
1. A alma distingue a vida humana e a vida dos irracionais das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como a vegetal. Tanto os homens como os irracionais possuem almas (em
Gên. 1:20, a palavra "vida" é "alma" no original). Poderíamos dizer que as plantas têm alma (no sentido de um princípio de vida), mas
não é uma alma consciente.
2. A alma do homem o distingue dos irracionais.
Estes possuem alma, mas é alma terrena que vive somente enquanto durar o corpo. (Ecl. 3:21.) A alma do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito humano. Como"toda carne não é a mesma carne", assim sucede com a alma; existe alma humana e existe alma dos irracionais. Evidentemente,
os homens fazem o que os irracionais não podem fazer, por muito inteligentes que sejam; a sua inteligência é de instinto e não proveniente de razão. Tanto os homens como os irracionais
constróem casas. Mas o homem progrediu, vindo a construir catedrais, escolas e arranha-céus, enquanto os animais inferiores constroem suas casas hoje da mesma maneira como as construíam quando Deus os criou.
Os irracionais podem guinchar (como o macaco), cantar (como o pássaro), falar (como o papagaio); mas somente o homem produz a arte, a literatura, a música e as invenções cientificas. O instinto dos animais pode manifestar a sabedoria do seu Criador, mas somente o homem pode conhecer e adorar a seu Criador. Para melhor ainda ilustrar o lugar elevado que ocupa o homem na escala da vida,
vamos observar os quatro degraus da vida, que se elevam em dignidade um sobre o outro, conforme a independência sobre a matéria. Primeiro, a vida vegetal, que necessita de órgãos materiais para assimilar o alimento; segundo, a vida sensível, que usa os órgãos para perceber as coisas materiais e ter contato com elas;
terceiro, a vida intelectual, que percebe o significado das coisas pela lógica, e não meramente pelos sentidos; quarto, a vida moral,que concerne à lei e à conduta. Os animais são dotados de vida vegetativa e sensível; o homem é dotado de vida vegetativa,sensível, intelectual e moral.
3. A alma distingue um homem de outro e dessa maneira forma a base da individualidade.
A palavra "alma" é, portanto,usada freqüentemente no sentido de "pessoa". Em Êxo. 1:5"setenta almas" significa "setenta pessoas". Em Rom.13:1 "cada alma" significa "cada pessoa". Atualmente dizemos, " não havia nem uma alma presente", referindo-nos às pessoas.
4. A alma distingue o homem não somente das ordens
inferiores, mas também das ordens superiores dos anjos, porque estes não têm corpos semelhantes aos dos homens. O homem tomou-se um "ser vivente", quer dizer, a alma enche um corpo
terreno sujeito às condições terrenas. Os anjos se descrevem como espíritos (Heb. 1:14), porque não estão sujeitos às condições ou limitações materiais. Por essa mesma razão se descreve Deus como
"Espírito". Mas os anjos são espíritos criados e finitos, enquanto Deus é o Espírito eterno e infinito.
(b) A origem da alma.
Sabemos que a primeira alma veio a existir como resultado de Deus ter soprado no homem o sopro de
vida. Mas como chegaram a existir as almas desde esse tempo? Os estudantes da Bíblia se dividem em dois grupos de idéias
diferentes:
(1) Um grupo afirma que cada alma individual não vem proveniente dos pais, mas sim pela criação Divina imediata. Citam as seguintes escrituras: Isa. 57:16; Ecl. 12:7; Heb. 12:9; Zac. 12:1
(2) Outros pensam que a alma é transmitida pelos pais. Apontam o fato de que a transmissão da natureza pecaminosa de Adão à posteridade milita contra a criação divina de cada alma; também o
fato de que as características dos pais se transmitem à descendência. Citam as seguintes passagens: João 1:13; 3:6; Rom.5:12; 1 Cor.15:22; Efés. 2:3; Heb. 7:10.
A origem da alma pode explicar-se pela cooperação tanto do Criador como dos pais. No princípio duma nova vida, a Divina criação e o uso criativo de meios agem em cooperação. O homem gera o homem em cooperação com "o Pai dos espíritos". O poder de Deus domina e permeia o mundo (Atos 17:28; Heb. 1:3) de maneira que todas as criaturas venham a ter existência segundo as leis que ele ordenou.
Portanto, os processos normais da reprodução humana põem em execução as leis da vida fazendo com que a alma nasça no mundo. A origem de todas as formas de vida está encoberta por um
véu de mistérios (Ecl. 11:5; Sal. 139:13-16; Jo 10:8-12), e esse fato deve servir de aviso contra a especulação sobre as coisas que estão além dos limites das declarações bíblicas.
(c) Alma e corpo.
A relação da alma com o corpo pode ser descrita e ilustrada da seguinte maneira:
1. A alma é a depositária da vida; ela figura em tudo que pertence ao sustento, ao risco, e à perda da vida. É por isso que em muitos casos a palavra "alma" tem sido traduzida "vida". (Vide
Gên. 9:5; 1 Reis 19:3; 2:23; Prov. 7:23; Êxo. 21:23,30; 30:12;Atos 15:26.) A vida é o entrosamento do corpo com a alma.
Quando a alma e o corpo se separam, o corpo não existe mais; o que resta é apenas um grupo de partículas materiais num estado de rápida decomposição.
2. A alma permeia e habita todas as partes do corpo e afeta mais ou menos diretamente todos os seus membros. Este fato explica por que as Escrituras atribuem sentimentos ao coração e aos rins (Sal. 73:21; Jo 16:13; Lam. 3:13; Prov. 23:16; Sal. 16:7; Jer. 12:2; Jo. 38:36); às entranhas (File. 12; Jer. 4:19; Lam. 1:20;2:11; Cânt. dos Cânt. 5:4; Isa. 16:11); e ao ventre (Hab. 3:16; Jo 20:23; 15:35; João 7:38). Esta mesma verdade, de que a alma permeia o corpo, explica porque em muitas passagens se descreve a alma executando atos corporais. (Prov. 13:4; Isa. 32:6; Num. 21:4; Jer. 16:16; Gên.44:30; Ezeq. 23:17, 22, 28.) "As partes internas" ou "entranhas" é a expressão que geralmente descreve o
entrosamento da alma com o corpo. (Isa. 16:11; Sal. 51:6; Zac.12:1; Isa. 26:9; 1 Reis 3:28.) Essas passagens descrevem as partes internas como o centro dos sentimentos, de experiência espiritual e
de sabedoria. Mas notemos que não é o tecido material que pensa e sente, e, sim a alma operando por meio dos tecidos.
Corretamente falando, não é o coração de carne, mas a alma, por meio do coração, que sente.
3. Por meio do corpo a alma recebe suas impressões do mundo exterior. Essas impressões são percebidas por estes sentidos: vista, audição, paladar, olfato e tato, e são transmitidas
ao cérebro por via do sistema nervoso. Por meio do cérebro a alma elabora essas impressões pelos processos do intelecto, da razão, da memória e da imaginação.
A alma atua sobre essas
impressões enviando ordens às várias partes do corpo por via do cérebro e do sistema nervoso.
4. A alma estabelece contato com o mundo por meio do corpo, que é o instrumento da alma. O sentir, o pensar, o exercer vontade e outros atos, são todos eles atividades da alma ou do "eu". É
o "eu" que vê e não somente os olhos; é o "eu" que pensa e não meramente o intelecto; é o "eu" que joga a bola e não meramente o meu braço; é o "eu" que pede e não simplesmente a
língua ou os membros. Quando um membro é ferido, a alma não pode funcionar bem por meio dele; em caso de lesão cerebral pode resultar a demência. A alma então passa a ser como um músico
com um instrumento danificado ou quebrado.
(d) A alma e o pecado.
A alma vive a sua vida natural através dos instintos, termo que vamos empregar por falta de outro
melhor. Esses instintos são forças motrizes da personalidade, com as quais o Criador dotou o homem para fazê-lo apto a uma existência terrena (assim como o dotou de faculdades espirituais
para capacitá-lo a uma existência celestial). Chamamo-los instintos porque são impulsos inatos, implantados na criatura a fim de capacitá-la a fazer instintivamente o que é necessário para
originar e preservar a vida natural.
Assim escreve o Dr. Leander Keyser:
"Se no inicio de sua vida o infante humano não tivesse
certos instintos, não poderia sobreviver, mesmo com o melhor cuidado paterno e médico.
" Vamos considerar os cinco instintos mais importantes.
O primeiro é o instinto da auto-preservação que
nos avisa de perigo e nos capacita a cuidar de nós mesmos.
O segundo, é o instinto de aquisição (conseguir), que nos conduz a adquirir as provisões para o sustento próprio. O terceiro, é o
instinto da busca de alimento, o impulso que leva a satisfazer a fome natural.
O quarto é o instinto da reprodução que conduz à perpetuação da espécie.
O quinto, é o instinto de domínio que conduz a exercer certa iniciativa própria necessária para o
desempenho da vocação e das responsabilidades.
O registro desses dotes (ou instintos) do homem concedidos pelo Criador acha-se nos primeiros dois capítulos de Gênesis.
O instinto de autopreservação implica a proibição e o aviso: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás porque no dia em que dela comeres certamente morrerás." O instinto
de aquisição aparece no fato de ter Adão recebido da mão de Deus o lindo jardim do Éden. O instinto da busca de alimento percebe-se nas palavras:
"Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão sementes, as quais se acham sobre a face de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente ser-vos-á para alimento." Ao instinto de reprodução referem-se estas declarações:
"Homem e mulher os criou." "Deus os abençoou e lhes disse: frutificai, multiplicai-vos." Ao quinto instinto, domínio, refere-se o mandamento: "Enchei a terra, e sujeitai-a; dominai."Deus ordenou que as criaturas inferiores fossem governadas primeiramente pelos instintos, mas o homem foi elevado à
dignidade de possuir o dom de livre arbítrio e a razão, com os quais poderia disciplinar-se a si mesmo e tornar-se árbitro do seu próprio destino. Como guia para o regulamento das faculdades do homem, Deus impôs uma lei. O entendimento do homem quanto a essa lei produziu uma consciência, que significa literalmente "com conhecimento". Quando o homem deu ouvidos à lei, teve a consciência esclarecida; quando desobedeceu a Deus, sofreu, pois a consciência o acusava. No relato da tentação (Gên. 3) lemos como o homem cedeu à concupiscência dos olhos, à cobiça da carne, e à vaidade da vida. (1 João 2:16), e usou os seus poderes de modo contrário à vontade de Deus.
A alma consciente e voluntariamente, usou o corpo para pecar contra Deus.
Essa combinação de alma pecaminosa e corpo humano constituem o que se conhece como "o corpo do pecado" (Rom. 6:6), ou "a carne"(Gál. 5:24). A inclinação e desejo da alma para usar o corpo dessa maneira se descreve como a "mente carnal" (Rom. 8:7).
Visto que o homem pecou com o corpo, será julgado segundo"o que fez por meio do corpo" (2 Cor. 5:10). Isso envolve uma ressurreição. (João 5:28, 29.) Quando a "carne" é condenada, a referência não é ao corpo material (o elemento material não pode pecar), mas ao corpo usado pela alma pecadora.
É a alma que peca.
Ainda que a língua do difamador fosse cortada o difamador seria o mesmo. Amputam-se as mãos do larápio, mas de coração ele ainda seria ladrão. Os impulsos pecaminosos da alma devem ser extirpados; é essa a obra do Espírito Santo. (Vide Col. 3:5; Rom. 8:13.)
"A carne" pode ser definida como a soma total dos instintos do homem, não como vieram das mãos do Criador, e, sim, como são na realidade, pervertidos e feitos anormais pelo pecado. é a natureza humana na sua condição decaída,
enfraquecida e desorganizada pela herança racial derivada de Adão e debilitada e pervertida por atos voluntários pecaminosos. Ela representa a natureza humana não regenerada cujas fraquezas freqüentemente se escusam com estas palavras: "Afinal de contas a natureza humana é assim mesmo." é a aberração desses instintos e faculdades dados por Deus que forma a base do pecado.
Por exemplo, o egoísmo, a irritabilidade, a inveja, e a ira são aberrações do instinto da autopreservação. O roubo e a cobiça são perversões do instinto de aquisição. "não furtarás" e " não
cobiçarás" querem dizer: "não perverterás o instinto de aquisição.
A glutonaria é a perversão do instinto de alimentação, portanto, é pecado.
A impureza é perversão do instinto de reprodução. A tirania, a arrogância, a injustiça e a implicância representam abusos do instinto de domínio. Assim vemos que o pecado, fundamentalmente, é o abuso ou a aberração das forças com que Deus nos dotou. Notemos quais as conseqüências dessa perversão:
(1) a consciência culpada que diz ao homem que desonrou a seu Criador, e avisa-o da pena terrível;
(2) a perversão dos instintos reage sobre a alma, debilitando a vontade, incitando e fortalecendo
hábitos maus, e criando deformações do caráter.
Paulo fez um catálogo dos sintomas desses "defeitos" da alma (uma palavra hebraica traduzida "pecado" significa literalmente "tortuosidade"Em Gál. 5:19-21). "Ora as obras da carne são manifestas, as quais são: a fornicação, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e outras coisas semelhantes." Paulo considerou tais coisas tão sérias que acrescenta as palavras, "os que tais coisas praticam,
não herdarão o reino de Deus". Colocada sob o poder do pecado, a alma toma-se "morta em delitos e pecados" (Efés. 2:1). Colocada entre o corpo e o espírito, entre o mais elevado e o inferior, entre o terreno e o espiritual, a alma fez uma escolha má. Mas da escolha não surgiu proveito, e, sim, perda eterna (Mat. 16:26).
Foi feita a má "barganha" de Esaú — a troca da bênção espiritual por uma coisa terrena e perecível. (Heb.12:16.) Ao morrer, a alma ter que passar para o outro mundo, "manchada pela carne". (Jud. 23.)
Felizmente existe um remédio — a cura dupla, tanto para a culpa como para o poder do pecado, (1) Porque o pecado é uma ofensa a Deus, é exigida uma expiação para remover a culpa e purificar a
consciência.
A provisão do Evangelho é o sangue de Jesus Cristo.
(2) Visto que o pecado traz doença à alma e desordem no ser humano, requere-se um poder curativo e corretivo. Esse poder é justamente aquele provido pela operação interna do Espírito Santo
que endireita as coisas tortas da nossa natureza e põe em movimento certo as forças da nossa vida. Os resultados (os frutos) são "amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança" (Gál. 5:22, 23).
Em outras palavras, O Espírito Santo faz-nos justos, palavra que no hebraico significa "reto". O pecado é tortuosidade da alma; a justiça é sua retidão.
(e) A alma e o coração.
Tanto nas Escrituras, como na linguagem comum, a palavra "coração" significa o centro mesmo
duma coisa. (Deut. 4:11; Mat. 12:40 Êxo. 15:8; Sal. 46:2; Ezeq. 27:4,25,26,27.) O "coração" do homem é, portanto, o verdadeiro centro da sua personalidade.
É o centro da vida física.
Nas palavras do Dr. Beck:
"O coração é a primeira coisa a viver, e seu
primeiro movimento é sinal seguro de vida; seu silêncio é sinal positivo de morte." é também a fonte e o lugar onde se encontram as correntes da vida espiritual e da alma. Podemos descrevê-lo
como a parte mais profunda do nosso ser, a "casa das máquinas", por assim dizer, da personalidade, donde procedem os impulsos que determinam o caráter e a conduta do homem.
1. O coração é centro da vida, do desejo, da vontade e do juízo.
O amor, o ódio, a determinação, a vontade e o gozo (Sal.105:3) unem-se com o coração. O coração sabe, compreende (1Reis 3:9), delibera, calcula; está disposto, é dirigido, presta atenção, e inclina-se para as coisas. Tudo o que impressiona a alma se diz estar fixado, estabelecido, ou escrito no coração. O coração é o depósito de tudo quanto se ouve ou se experimenta(Lu. 2:51). O coração é a "fábrica", por assim dizer, em que se formam pensamentos e propósitos, sejam bons ou maus. (Vide
Sal.14:1; Mat. 9:4; l Cor. 7:37; 1Reis 8:17.)
2. O coração é o centro da vida emocional. Ao coração
atribuem-se todos os graus de gozo, desde o prazer, (Isa. 65:14) até
ao êxtase e exultação (Atos 2:46); todos os graus de dor, desde o
descontentamento (Prov. 25:20) e a tristeza (Joao14:1) até ao "ai"
lacerante e esmagador (Sal. 109:22; Atos 21:13); todos os graus de
má vontade desde a provocação e ira (Prov. 23:17) até à cólera
incontrolável (Atos 7:54) e o desejo vingativo ardente (Deut. 19:6);
todos os graus de temor desde o tremor reverente (Jer. 32:40) até
ao pavor (Deut. 28:28). O coração derrete-se e se retorce em
angústia (Jos. 5:1); torna-se fraco pela depressão (Lev. 26:36);
murcha sob o peso da tristeza (Sal. 102:4); quebra-se e fica
esmagado pela adversidade (Sal. 147:3), é consumido por um ardor
sagrado (Jer.20:9).
3. O coração é o centro da vida moral. Concentrado no
coração pode haver o amor de Deus (Sal. 73:26) ou o orgulho
blasfemo (Ezeq. 28:2, 5). O coração é a"oficina" de tudo quanto é
bom ou mau nos pensamentos, nas palavras ou nas ações. (Mat.
15:19.) É onde se reúnem todos os impulsos bons ou as
cobiças más; é a sede dum tesouro bom ou ruim. Do que tiver em
abundância ele fala e opera.(Mat. 12:34, 35.) É o lugar onde
originalmente foi escrita a lei de Deus (Rom.2:15), e onde a mesma
lei é renovada pela operação do Espírito Santo. (Heb.8:10.) É sede
da consciência (Heb. 10:22) e a ele atribuem-se todos os
testemunhos da consciência, (1 João 3:19-21.) Com o coração o
homem crê (Rom. 10:10) ou descrê (Heb. 3:12). É campo onde se
semeia a Palavra divina (Mat. 13:19).Segundo as suas decisões,
está sob a inspiração de Deus (2 Cor. 8:16) ou de Satanás (João
13:2). É a morada de Cristo (Efés. 3:17) e do Espírito (2 Cor. 1:22);
da paz de Deus (Col. 3:15). é o receptáculo do amor de Deus (Rom.
5:5), o lugar da aurora celestial (2 Cor. 4:6), a câmara da
comunhão secreta com Deus (Efés.5:19). É uma grande
profundidade misteriosa que somente Deus pode sondar. (Jer.
17:9.) Foi em vista das imensas possibilidades implícitas no
coração do homem que Salomão proferiu esta admoestação:
"Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem
as fontes da vida" (Prov. 4:23).
(f) A alma e o sangue. "Porque a vida (literalmente "alma") da
carne está no sangue" (Lev. 17:11). As Escrituras ensinam que,
tanto no homem como no irracional, o sangue é a fonte e o
depositário da vida física. (Lev. 17:11; 3:17; Deut. 12:23; Lam.
2:12; Gên. 4:10; Heb. 12:24; Jo 24:12; Apoc. 6:9,10; Jer. 2:34;
Prov. 28:17.) Vamos citar as palavras de Harvey, médico inglês,
descobridor da circulação do sangue: "é o primeiro órgão a viver e o
último a morrer; é a sede principal da alma. Ele vive e nutre-se de
si mesmo, e por nenhuma outra parte do corpo." Em Atos 17:26 e
João 1:13 o sangue se apresenta como a matéria original de onde
surge o organismo humano. Usando o coração como bomba, e
o sangue como meio da vida, a alma envia vitalidade e nutrição
a todas as partes do corpo.O lugar que a criatura ocupa na escala
da vida determina o valor do seu respectivo sangue. Primeiro vem
o sangue dos animais; porém de valor maior é o sangue do
homem, porque o homem tem a imagem de Deus. (Gên. 9:6). De
estima especial é o sangue dos inocentes e dos mártires. (Gên.
4:10; Mat. 23:35.) O mais precioso de todos é o sangue de Cristo (1
Pedro 1:19; Heb. 9:12), de valor infinito por estar unido com
a Divindade. Pelo plano benigno de Deus, o sangue tomou-se o
meio de expiação, quando aspergido sobre o altar de Deus. "Pelo
que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas
vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma"
(Lev. 17:11).